sexta-feira, dezembro 20, 2002
Sorte - Sou uma pessoa de sorte, sim. Muita. Meus amigos não enchem uma mão, mas são do tipo descrito aí embaixo. Sei que se eu ficasse em coma (tipo Fale com Ela) por anos a fio, eles se revezariam apara me dar banho, limpar meus cocôs, fazer massagem, cuidar do meu cabelo, fazer as minhas unhas. Não me abandonariam se eu tivesse AIDS, esquizofrenia, câncer linfático. Nem mesmo se eu casasse com o Carlinhos Brown. Se eu ficasse milionária, não teria medo de colocá-los como meus procuradores com amplos poderes para cuidar do meu patrimônio, enquanto eu descanso no Tahiti. São de fé. Sou uma pessoa de sorte.
O que é um amigo?
Quantos amigos você tem? 10? 15?
Quantas pessoas você tem certeza de que estarão ao seu lado quando tudo tiver dado errado? Quantas comemorarão ao teu lado, sinceramente felizes pelo teu sucesso, ainda que a vida delas não esteja tão bem quanto a sua? Para quantas pessoas você deseja somente o bem, o melhor, ainda que elas se sobressaiam mais que você?
Quantos amigos você tem? 7? 8?
Para quantas pessoas você é capaz de falar pessoalmente e tecer críticas construtivas quando você vê que elas erraram em vez de comentar com os outros as falhas que elas cometeram? Quantas pessoas você é capaz de defender das observações maldosas dos outros sem aderir às críticas? Com quantas pessoas você é capaz de conversar, ouvir, se abrir, sem competir, sem atacar, sem se defender?
Quantos amigos você tem? 3? 4?
Para quantas pessoas você conta suas fragilidades sem medo delas serem usadas contra você? Para quantas pessoas você pode ligar no meio da madrugada e pedir carinho, perdão, conselhos? Por quantas pessoas você faria qualquer sacrifício sem que isso lhe doesse na alma, sem que isso se impusesse como obrigação?
Quantos amigos você tem? Um?
Parabéns. Você é uma pessoa de muita sorte.
Viram o filme? Somente Elas (Boys on the Side). Fala de amizade, como eu acho que amizade deve ser.
Quantos amigos você tem? 10? 15?
Quantas pessoas você tem certeza de que estarão ao seu lado quando tudo tiver dado errado? Quantas comemorarão ao teu lado, sinceramente felizes pelo teu sucesso, ainda que a vida delas não esteja tão bem quanto a sua? Para quantas pessoas você deseja somente o bem, o melhor, ainda que elas se sobressaiam mais que você?
Quantos amigos você tem? 7? 8?
Para quantas pessoas você é capaz de falar pessoalmente e tecer críticas construtivas quando você vê que elas erraram em vez de comentar com os outros as falhas que elas cometeram? Quantas pessoas você é capaz de defender das observações maldosas dos outros sem aderir às críticas? Com quantas pessoas você é capaz de conversar, ouvir, se abrir, sem competir, sem atacar, sem se defender?
Quantos amigos você tem? 3? 4?
Para quantas pessoas você conta suas fragilidades sem medo delas serem usadas contra você? Para quantas pessoas você pode ligar no meio da madrugada e pedir carinho, perdão, conselhos? Por quantas pessoas você faria qualquer sacrifício sem que isso lhe doesse na alma, sem que isso se impusesse como obrigação?
Quantos amigos você tem? Um?
Parabéns. Você é uma pessoa de muita sorte.
Viram o filme? Somente Elas (Boys on the Side). Fala de amizade, como eu acho que amizade deve ser.
quinta-feira, dezembro 19, 2002
Carros que voam - Minha amiga CatiaFabi (não, nada a ver com a Cátia Flávia, Godiva do Irajá) mandou este texto. Gostei muito. Combina com final de ano e com aquele balanço básico que a gente faz das coisas importantes que foram ficando pelo caminho.
O carro voador
Ela dizia que seu carro podia voar. E nós
acreditávamos. No banco de trás, pulando e gritando
euforicamente, esperávamos pela decolagem – que,
naturalmente, nunca aconteceu. Mas isso não importava.
Nunca ter levantado vôo enquanto o automóvel de minha
mãe ganhava velocidade pelas avenidas paulistanas não
chegou a tirar a diversão da brincadeira. Fato é que
meus irmãos e eu não duvidávamos da capacidade
supersônica do carro, o único no mundo, garantia minha
mãe, equipado com um mecanismo que, uma vez acionado,
faria com que as rodas saíssem do chão. Ela mostrava o
dispositivo, que ficava bem embaixo da direção, ao
alcance da mão esquerda do motorista. A alavanca
estava lá, podíamos ver. Minha mãe não mentia. Era
mesmo pura falta de sorte que os sinais fechassem ou
que um carro mais lento entrasse na nossa frente
sempre que o TL azul calcinha ganhava aceleração. Mas
a matriarca era incansável. Tendo uma oportunidade, ou
alguns metros de pista a sua frente, dava o comando;
ia tentar decolar. E nós começavamos a pular, bêbados
da mais pura euforia – a infantil.
Semana passada andei de carro com minha mãe novamente.
Dessa vez, era eu ao volante. Dessa vez, o carro era
meu e não dela. Dessa vez, mal nos falávamos. Olhei
para o lado, vi a fisionomia envelhecida da genitora e
lembrei do TL azul calcinha. Lembrei da algazarra sem
fim que meus irmão e eu fazíamos no banco de trás.
Lembrei da segurança imponente que minha mãe nos
passava, controlando o carro com majestade, fazendo
com que nós nos sentíssemos seguros e protegidos, a
ponto de não termos medo de voar. Mas, dessa vez, a
indefesa era ela. Dessa vez, quem precisava se sentir
protegida era ela, não eu.
O momento era inadequado
Quase trinta anos se passaram, minhas irmãs casaram,
meu irmão era médico, e para mim ela não olhava havia
alguns invernos, desde que anunciei que era gay. Olhei
para a frente e vi as pistas da 23 de maio, uma das
avenidas mais movimentadas de São Paulo, vazias – tipo
de fenômeno que só ocorre entre 3 e 5 da manhã na
capital paulistana. Eram cinco da manhã. Pensei em
dizer que ia tentar decolar. Mas não achei que ela
fosse entender, ou lembrar, muito menos rir. Pensando
bem, o momento era inadequado. Estávamos a caminho do
Aeroporto de Congonhas e eu precisava colocar minha
mãe no primeiro vôo para o Rio. Há poucas horas, minha
avó tinha sido internada na UTI de um hospital carioca
(a Nonna, a que nunca havia ficado doente). Os médicos
não davam muita esperança.
Tentei imaginar o que eu estaria sentindo se soubesse
que estava indo me despedir dela, minha mãe, a pessoa
que me colocou no mundo, que me deu colo, que ficou ao
meu lado quando tive febre, que acordava junto comigo
para cortar e colocar açúcar no mamão que eu gostava
de comer no café-da-manhã, antes de ir para a aula.
Senti um pouco da dor que ela devia estar sentindo
naquele momento. Olhei mais uma vez para o lado e vi
minha mãe, cabelos brancos, expressão sofrida. Tentei
imaginar de onde ela tirava forças quando éramos
pequenos para ser tão divertida, tão cúmplice.
Naquela manhã, a caminho do aeroporto, no comando do
carro e mais velha do que minha mãe era quando dizia
que ia fazer o TL decolar, admirei profundamente a
capacidade dela de ter sido tão criança mesmo sendo
responsável por quatro outras vidas. Crescemos,
mudamos, brigamos – envelhecemos. Olhei para a frente
e vi as pistas da 23 de maio vazias. Olhei para o lado
e vi minha mãe – indefesa, expressão funda, dor
estocada, seriedade senil.
Comecei a acelerar pelas faixas livres da avenida
enorme.
Vou tentar decolar, anunciei.
Pela primeira vez em muitos anos, minha mãe olhou para
mim. E sorriu.
*A carioca Milly Lacombe, 35 anos, é jornalista. Seu
e-mail: millylacombe22@aol.com
O carro voador
Ela dizia que seu carro podia voar. E nós
acreditávamos. No banco de trás, pulando e gritando
euforicamente, esperávamos pela decolagem – que,
naturalmente, nunca aconteceu. Mas isso não importava.
Nunca ter levantado vôo enquanto o automóvel de minha
mãe ganhava velocidade pelas avenidas paulistanas não
chegou a tirar a diversão da brincadeira. Fato é que
meus irmãos e eu não duvidávamos da capacidade
supersônica do carro, o único no mundo, garantia minha
mãe, equipado com um mecanismo que, uma vez acionado,
faria com que as rodas saíssem do chão. Ela mostrava o
dispositivo, que ficava bem embaixo da direção, ao
alcance da mão esquerda do motorista. A alavanca
estava lá, podíamos ver. Minha mãe não mentia. Era
mesmo pura falta de sorte que os sinais fechassem ou
que um carro mais lento entrasse na nossa frente
sempre que o TL azul calcinha ganhava aceleração. Mas
a matriarca era incansável. Tendo uma oportunidade, ou
alguns metros de pista a sua frente, dava o comando;
ia tentar decolar. E nós começavamos a pular, bêbados
da mais pura euforia – a infantil.
Semana passada andei de carro com minha mãe novamente.
Dessa vez, era eu ao volante. Dessa vez, o carro era
meu e não dela. Dessa vez, mal nos falávamos. Olhei
para o lado, vi a fisionomia envelhecida da genitora e
lembrei do TL azul calcinha. Lembrei da algazarra sem
fim que meus irmão e eu fazíamos no banco de trás.
Lembrei da segurança imponente que minha mãe nos
passava, controlando o carro com majestade, fazendo
com que nós nos sentíssemos seguros e protegidos, a
ponto de não termos medo de voar. Mas, dessa vez, a
indefesa era ela. Dessa vez, quem precisava se sentir
protegida era ela, não eu.
O momento era inadequado
Quase trinta anos se passaram, minhas irmãs casaram,
meu irmão era médico, e para mim ela não olhava havia
alguns invernos, desde que anunciei que era gay. Olhei
para a frente e vi as pistas da 23 de maio, uma das
avenidas mais movimentadas de São Paulo, vazias – tipo
de fenômeno que só ocorre entre 3 e 5 da manhã na
capital paulistana. Eram cinco da manhã. Pensei em
dizer que ia tentar decolar. Mas não achei que ela
fosse entender, ou lembrar, muito menos rir. Pensando
bem, o momento era inadequado. Estávamos a caminho do
Aeroporto de Congonhas e eu precisava colocar minha
mãe no primeiro vôo para o Rio. Há poucas horas, minha
avó tinha sido internada na UTI de um hospital carioca
(a Nonna, a que nunca havia ficado doente). Os médicos
não davam muita esperança.
Tentei imaginar o que eu estaria sentindo se soubesse
que estava indo me despedir dela, minha mãe, a pessoa
que me colocou no mundo, que me deu colo, que ficou ao
meu lado quando tive febre, que acordava junto comigo
para cortar e colocar açúcar no mamão que eu gostava
de comer no café-da-manhã, antes de ir para a aula.
Senti um pouco da dor que ela devia estar sentindo
naquele momento. Olhei mais uma vez para o lado e vi
minha mãe, cabelos brancos, expressão sofrida. Tentei
imaginar de onde ela tirava forças quando éramos
pequenos para ser tão divertida, tão cúmplice.
Naquela manhã, a caminho do aeroporto, no comando do
carro e mais velha do que minha mãe era quando dizia
que ia fazer o TL decolar, admirei profundamente a
capacidade dela de ter sido tão criança mesmo sendo
responsável por quatro outras vidas. Crescemos,
mudamos, brigamos – envelhecemos. Olhei para a frente
e vi as pistas da 23 de maio vazias. Olhei para o lado
e vi minha mãe – indefesa, expressão funda, dor
estocada, seriedade senil.
Comecei a acelerar pelas faixas livres da avenida
enorme.
Vou tentar decolar, anunciei.
Pela primeira vez em muitos anos, minha mãe olhou para
mim. E sorriu.
*A carioca Milly Lacombe, 35 anos, é jornalista. Seu
e-mail: millylacombe22@aol.com
quarta-feira, dezembro 18, 2002
Cheiros - Provocada pelo Mikahil, lembrei de como eu sou cheirólotra. Tudo e todos, para mim, antes de mais nada, têm cheiro. Nunca simpatizaria com alguém cujo cheiro não me agrada. Nunca permaneceria em lugar algum que tivesse cheiro desagradável (a menos que fosse obrigada, claro).
Para vocês terem uma idéia, se estou com o nariz congestionado, namorar é algo fora de questão.
Lembrei agora que Natal pra mim ainda tem o cheiro da cera em pasta que a minha vó usava no assoalho (!) da casa dela em Pelotas. Nós chegávamos para passar as festas com ela e a casa tava toda limpinha, esperando a gente.
Para vocês terem uma idéia, se estou com o nariz congestionado, namorar é algo fora de questão.
Lembrei agora que Natal pra mim ainda tem o cheiro da cera em pasta que a minha vó usava no assoalho (!) da casa dela em Pelotas. Nós chegávamos para passar as festas com ela e a casa tava toda limpinha, esperando a gente.
2003 - Tenho já o meu pedido feito para o ano novo. Quero muitos frios na barriga. É, isso mesmo: frios na barriga. Quero frio na barriga de apreensão por ainda não saber se um plano deu certo, frio na barriga por não saber se ele vai ligar. Frio na barriga porque ele ligou e vamos nos encontrar logo. Frio na barriga por começar um trabalho novo e dasafiador. Frio na barriga porque aprontei um trabalho e quero ver se vão gostar. Frio na barriga ao desembarcar numa cidade de que gosto. Frio na barriga pela expectativa diante das realizações dos meus amigos. Frio na barriga diante de duas opções. Frio na barriga ao olhar dentro dos olhos de alguém. Frio na barriga pelas responsabilidades que hão de vir. Frio na barrriga por ouvir que alguém que eu amo me ama também. Isso. Muitos frios na barriga. O melhor combustível do mundo.
E aí, já encomendou seu frio na barriga pra 2003?
E aí, já encomendou seu frio na barriga pra 2003?
terça-feira, dezembro 17, 2002
Futilidades - Não, não ando fútil. Só estou feliz. E mulher é assim: tá deprê, vai ao shopping; tá feliz, vai ao shopping. No primeiro caso, pra comprar uma roupinha legal e se sentir melhor; no segundo, para fazer uma super produção arrasante compatível com seu estado de espírito. O meu agora seria uma combinação de Escola de Samba Joãozinho Trinta, Star Wars George Lucas e Qualquer Coisa James Cameron (I'm the queen of the woooorrrllllddd!)
Sim, eu sei, isso dá e passa. Mas deixa eu aproveitar a minha fase maníaca enquanto a depressiva não vem.
Sim, eu sei, isso dá e passa. Mas deixa eu aproveitar a minha fase maníaca enquanto a depressiva não vem.
segunda-feira, dezembro 16, 2002
Indicador Musical de Humor (IMH): Todo Amor que Houver Nessa Vida, Cássia Eller Acústico (CAPTARAM, NÉ?)
"Eu quero a sorte de um amor tranqüilo, com sabor de fruta mordida
Nós, na batida, no embalo da rede, matando a sede na saliva
Ser teu pão, ser tua comida, todo amor que houver nessa vida
E algum trocado pra dar garantia
E ser artista no nosso convívio pelo inferno e céu de todo dia
Pra poesia que a gente não vive transformar o tédio em melodia
Ser teu pão, ser tua comida, todo amor que houver nessa vida
E algum veneno anti monotonia
E se eu achar a sua fonte escondida, te alcanço em cheio o mel e a ferida
E o corpo inteiro como um furacão: boca, nuca, mão e a tua mente, não
Ser teu pão, ser tua comida, todo amor que houver nessa vida
E algum remédio que me dê alegria
Índice de Intolerância com a Burrice Alheia (INIBA): 0% (MAS NÃO ABUSEM!)
"Eu quero a sorte de um amor tranqüilo, com sabor de fruta mordida
Nós, na batida, no embalo da rede, matando a sede na saliva
Ser teu pão, ser tua comida, todo amor que houver nessa vida
E algum trocado pra dar garantia
E ser artista no nosso convívio pelo inferno e céu de todo dia
Pra poesia que a gente não vive transformar o tédio em melodia
Ser teu pão, ser tua comida, todo amor que houver nessa vida
E algum veneno anti monotonia
E se eu achar a sua fonte escondida, te alcanço em cheio o mel e a ferida
E o corpo inteiro como um furacão: boca, nuca, mão e a tua mente, não
Ser teu pão, ser tua comida, todo amor que houver nessa vida
E algum remédio que me dê alegria
Índice de Intolerância com a Burrice Alheia (INIBA): 0% (MAS NÃO ABUSEM!)
Redenção à pedidos
Para quem não conhece, este é o Parque Farroupilha, também conhecido como "Redenção". Fica a 2 quadras do meu apê (morram de inveja!!) e é uma coisa linda. A Cidade Baixa e o Bom Fim, os similares porto-alegrenses do Quartier Latin e Marais de Paris, são separados, ou unidos, conforme a preferência do freguês, pela "Redença". Depois de morar na Cidade Baixa, fico pré-disposta a não me adaptar a nenhum outro lugar do mundo.
Nada mais Porto Alegre que este poeta alegretense que se apaixonou pela cidade deitada às margens do Guaíba. Faço minha sua declaração de amor:
O MAPA
(Mário Quintana)
Olho o mapa da cidade
Como quem examinasse
A anatomia de um corpo...
(É nem que fosse meu corpo!)
Sinto uma dor esquisita
Das ruas de Porto Alegre
Onde jamais passarei...
Há tanta esquina esquisita
Tanta nuança de paredes
Há tanta moça bonita
Nas ruas que não andei
(E há uma rua encantada Que nem em sonhos sonhei...)
Quando eu for, um dia desses,
Poeira ou folha levada
No vento da madrugada,
Serei um pouco do nada Invisível, delicioso
Que faz com que o teu ar
Pareça mais um olhar
Suave mistério amoroso
Cidade de meu andar (Deste já tão longo andar!)
E talvez de meu repouso...
Para quem não conhece, este é o Parque Farroupilha, também conhecido como "Redenção". Fica a 2 quadras do meu apê (morram de inveja!!) e é uma coisa linda. A Cidade Baixa e o Bom Fim, os similares porto-alegrenses do Quartier Latin e Marais de Paris, são separados, ou unidos, conforme a preferência do freguês, pela "Redença". Depois de morar na Cidade Baixa, fico pré-disposta a não me adaptar a nenhum outro lugar do mundo.
Nada mais Porto Alegre que este poeta alegretense que se apaixonou pela cidade deitada às margens do Guaíba. Faço minha sua declaração de amor:
O MAPA
(Mário Quintana)
Olho o mapa da cidade
Como quem examinasse
A anatomia de um corpo...
(É nem que fosse meu corpo!)
Sinto uma dor esquisita
Das ruas de Porto Alegre
Onde jamais passarei...
Há tanta esquina esquisita
Tanta nuança de paredes
Há tanta moça bonita
Nas ruas que não andei
(E há uma rua encantada Que nem em sonhos sonhei...)
Quando eu for, um dia desses,
Poeira ou folha levada
No vento da madrugada,
Serei um pouco do nada Invisível, delicioso
Que faz com que o teu ar
Pareça mais um olhar
Suave mistério amoroso
Cidade de meu andar (Deste já tão longo andar!)
E talvez de meu repouso...
sexta-feira, dezembro 13, 2002
IMH: Come away with me, Norah Jones (Segue a letra da música. Para quem quiser, tem MP3 na página da moça).
Come away with me in the night
Come away with me
And I will write you a song
Come away with me on a bus
Come away where they can't tempt us
With their lies
I want to walk with you
On a cloudy day
In fields where the yellow grass grows knee-high
So won't you try to come
Come away with me and we'll kiss
On a mountaintop
Come away with me
And I'll never stop loving you
And I want to wake up with the rain
Falling on a tin roof
While I'm safe there in your arms
So all I ask is for you
To come away with me in the night
Come away with me
INIBA: não registramos sinais perceptíveis de intolerância
Come away with me in the night
Come away with me
And I will write you a song
Come away with me on a bus
Come away where they can't tempt us
With their lies
I want to walk with you
On a cloudy day
In fields where the yellow grass grows knee-high
So won't you try to come
Come away with me and we'll kiss
On a mountaintop
Come away with me
And I'll never stop loving you
And I want to wake up with the rain
Falling on a tin roof
While I'm safe there in your arms
So all I ask is for you
To come away with me in the night
Come away with me
INIBA: não registramos sinais perceptíveis de intolerância
quinta-feira, dezembro 12, 2002
And so you came
And so you came,
Walking through the rain
Slightly by the day
A moonlight dressed in blue
Brown eyes wide opened
Little smile always hoping
A certain word unspoken.
And then I’ve gone
Right after you
Searching for more of this light unknown
Wanting more of you to say
Wondering if you’d let me stay.
And so you came,
Walking through the rain
Slightly by the day
A moonlight dressed in blue
Brown eyes wide opened
Little smile always hoping
A certain word unspoken.
And then I’ve gone
Right after you
Searching for more of this light unknown
Wanting more of you to say
Wondering if you’d let me stay.
quarta-feira, dezembro 11, 2002
segunda-feira, dezembro 09, 2002
domingo, dezembro 08, 2002
Bukowski- "nenhuma dor significa o fim da sensibilidade; cada uma de nossas alegrias é uma barganha com o diabo."
Será que é mesmo assim, que para cada alegria a gente sabe que tem uma dor em troca? Cada vez acredito mais nisso. Não como uma coisa ruim. Os limites são sempre mais interessantes e nos fazem sentir mais vivos. Há quem se permita viver grandes alegrias, sem medo das grandes dores em vez de diminuir o espectro e ir vivendo aos goles comedidos. Espero não deixar de ser corajosa nas barganhas.
Será que é mesmo assim, que para cada alegria a gente sabe que tem uma dor em troca? Cada vez acredito mais nisso. Não como uma coisa ruim. Os limites são sempre mais interessantes e nos fazem sentir mais vivos. Há quem se permita viver grandes alegrias, sem medo das grandes dores em vez de diminuir o espectro e ir vivendo aos goles comedidos. Espero não deixar de ser corajosa nas barganhas.
sexta-feira, dezembro 06, 2002
Uma mensagem imperial
KAFKA
O imperador – assim dizem – enviou a ti, súdito solitário e lastimável, sombra oimperador enviou, do leito de morte, uma mensagem. Fez ajoelhar-se o mensageiro ao pé da cama e sussurrou-lhe a mensagem no ouvido; tão importante lhe parecia, que mandou repeti-la em seu próprio ouvido. Assentindo com a cabeça, confirmou a exatidão das palavras. E, diante da turba reunida para assistir à sua morte – haviam derrubado todas as paredes impeditivas, e na escadaria em curva ampla e elevada, dispostos em círculo,
estavam os grandes do império –, diante de todos, despachou o mensageiro. De pronto, este se pôs em marcha, homem vigoroso, incansável. Estendendo ora um braço, ora outro, abre passagem em meio à multidão; quando encontra obstáculo, aponta no peito a insígnia do sol; avança facilmente, como ninguém. Mas a multidão é enorme; suas moradas não têm fim. Fosse livre o terreno, como voaria, breve ouvirias na porta o golpe magnífico de seu punho. Mas, ao contrário, esforça-se inutilmente; comprime-se nos aposentos do palácio central; jamais conseguirá atravessá-los; e se conseguisse, de nada valeria; precisaria empenhar-se em descer as escadas; e se as vencesse, de nada valeria; teria que percorrer os pátios; e depois dos pátios, o segundo palácio circundante; e novamente escadas e pátios; e mais outro palácio; e assim por milênios; e quando finalmente escapasse pelo último portão – mas
isto nunca, nunca poderia acontecer – chegaria apenas à capital, o centro do mundo, onde se acumula a prodigiosa escória. Ninguém consegue passar por aí, muito menos com a mensagem de um morto. Mas, sentado à janela, tu a imaginas, enquanto a noite cai.
(De Um Médico Rural) Tradução: Lúcia Nagib
KAFKA
O imperador – assim dizem – enviou a ti, súdito solitário e lastimável, sombra oimperador enviou, do leito de morte, uma mensagem. Fez ajoelhar-se o mensageiro ao pé da cama e sussurrou-lhe a mensagem no ouvido; tão importante lhe parecia, que mandou repeti-la em seu próprio ouvido. Assentindo com a cabeça, confirmou a exatidão das palavras. E, diante da turba reunida para assistir à sua morte – haviam derrubado todas as paredes impeditivas, e na escadaria em curva ampla e elevada, dispostos em círculo,
estavam os grandes do império –, diante de todos, despachou o mensageiro. De pronto, este se pôs em marcha, homem vigoroso, incansável. Estendendo ora um braço, ora outro, abre passagem em meio à multidão; quando encontra obstáculo, aponta no peito a insígnia do sol; avança facilmente, como ninguém. Mas a multidão é enorme; suas moradas não têm fim. Fosse livre o terreno, como voaria, breve ouvirias na porta o golpe magnífico de seu punho. Mas, ao contrário, esforça-se inutilmente; comprime-se nos aposentos do palácio central; jamais conseguirá atravessá-los; e se conseguisse, de nada valeria; precisaria empenhar-se em descer as escadas; e se as vencesse, de nada valeria; teria que percorrer os pátios; e depois dos pátios, o segundo palácio circundante; e novamente escadas e pátios; e mais outro palácio; e assim por milênios; e quando finalmente escapasse pelo último portão – mas
isto nunca, nunca poderia acontecer – chegaria apenas à capital, o centro do mundo, onde se acumula a prodigiosa escória. Ninguém consegue passar por aí, muito menos com a mensagem de um morto. Mas, sentado à janela, tu a imaginas, enquanto a noite cai.
(De Um Médico Rural) Tradução: Lúcia Nagib
quinta-feira, dezembro 05, 2002
As faltas improváveis - A falta que me fazes não é a do teu sexo de afundando em minhas carnes, de tuas mãos enredando os meus cabelos, dos teus fluidos secando entre meus pelos. Sinto falta do teu sorriso largo a contra-gosto, porque não gostas de mostrar contentamento, das brincadeiras infantis que nem tu te sonhavas capaz, dos segredos compartilhados no meio das banalidades do dia. Aí é onde me encontro única na tua vida. Disso é que sinto falta. Nisso me fazes feliz inteira.
quarta-feira, dezembro 04, 2002
Aviso de Utilidade Pública - Informo, a quem interessar possa, que o meu IMH de hoje mudou para Zeca Baleiro, Petshop Mundo Cão. Como diria Zeca, meu pajé, tô com vontade de mandar flores pro delegado, de bater na porta do vizinho e desejar bom dia, de abraçar o português da padaria.
Por mim pode chover cântaros, canivete, sapo (como no filme Magnolia), cachorro raivoso, até água. Não me importo. Aliás, hoje eu só me exporto. De preferência para Júpiter ou Marte, para ver como é a primavera por lá. Quem sabe o meu IMH devesse ser Fly me to the Moon, com Old Blue Eyes ? Parece assaz adequado. É isso. Nóis sofre mais nóis goza. Fui. Hoje só amanhã. Que eu vou pingar meu colírio alucinógeno.
Por mim pode chover cântaros, canivete, sapo (como no filme Magnolia), cachorro raivoso, até água. Não me importo. Aliás, hoje eu só me exporto. De preferência para Júpiter ou Marte, para ver como é a primavera por lá. Quem sabe o meu IMH devesse ser Fly me to the Moon, com Old Blue Eyes ? Parece assaz adequado. É isso. Nóis sofre mais nóis goza. Fui. Hoje só amanhã. Que eu vou pingar meu colírio alucinógeno.
Um beijo - Não conheço melhor descrição de um beijo apaixonado que esta aí embaixo. Passei muito tempo tentando traduzir o que se sente nessa hora, aquele misto de falta de nada, morte, vida, fúria, ânsia, parece que vai morrer e depois parece que a gente vai nascer, mais uma vez, ressucitar.
Nasci pra ser um animal sentimental, como diria Renato. Tem o lado positivo e o negativo, claro.
Nasci pra ser um animal sentimental, como diria Renato. Tem o lado positivo e o negativo, claro.
(Hilda Hilst)
Colada à tua boca a minha desordem.
O meu vasto querer.
O incompossível se fazendo ordem.
Colada à tua boca, mas descomedida
Árdua
Construtor de ilusões examino-te sôfrega
Como se fosses morrer colado à minha boca.
Como se fosse nascer
E tu fosses o dia magnânimo
Eu te sorvo extremada à luz do amanhecer.
( Do Desejo - 1992)
segunda-feira, dezembro 02, 2002
Quebra-cabeças - acho que a pessoa certa pra gente é como uma peça mutante que encaixa no último espaço que resta, também mutante. Em cada momento da vida nossas lacunas e nossas sobras, nossas garras e golfos, nossos côncavos e nossos convexos são diferentes, somos seres mutantes. Para cada momento, uma peça de quebra-cabeças diferente encaixa. Pode ter estado lá, bem ao lado da nossa paisagem polar inacabada, e nunca ter encaixado antes e um dia passa a ser a peça perfeita. Pode ter tido quase tudo para encaixar (sobrava uma arestinha de nada) e de repente, não encaixar mais em hipótese alguma. Pode ter encaixado sempre e continuar preenchendo todos os espaços, que vão se modificando e podemos nunca ter a sorte de achar a peça certa no momento certo. O divertido é tentar terminar de montar um quebra-cabeças infinito.
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