sexta-feira, dezembro 20, 2002
Sorte - Sou uma pessoa de sorte, sim. Muita. Meus amigos não enchem uma mão, mas são do tipo descrito aí embaixo. Sei que se eu ficasse em coma (tipo Fale com Ela) por anos a fio, eles se revezariam apara me dar banho, limpar meus cocôs, fazer massagem, cuidar do meu cabelo, fazer as minhas unhas. Não me abandonariam se eu tivesse AIDS, esquizofrenia, câncer linfático. Nem mesmo se eu casasse com o Carlinhos Brown. Se eu ficasse milionária, não teria medo de colocá-los como meus procuradores com amplos poderes para cuidar do meu patrimônio, enquanto eu descanso no Tahiti. São de fé. Sou uma pessoa de sorte.
O que é um amigo?
Quantos amigos você tem? 10? 15?
Quantas pessoas você tem certeza de que estarão ao seu lado quando tudo tiver dado errado? Quantas comemorarão ao teu lado, sinceramente felizes pelo teu sucesso, ainda que a vida delas não esteja tão bem quanto a sua? Para quantas pessoas você deseja somente o bem, o melhor, ainda que elas se sobressaiam mais que você?
Quantos amigos você tem? 7? 8?
Para quantas pessoas você é capaz de falar pessoalmente e tecer críticas construtivas quando você vê que elas erraram em vez de comentar com os outros as falhas que elas cometeram? Quantas pessoas você é capaz de defender das observações maldosas dos outros sem aderir às críticas? Com quantas pessoas você é capaz de conversar, ouvir, se abrir, sem competir, sem atacar, sem se defender?
Quantos amigos você tem? 3? 4?
Para quantas pessoas você conta suas fragilidades sem medo delas serem usadas contra você? Para quantas pessoas você pode ligar no meio da madrugada e pedir carinho, perdão, conselhos? Por quantas pessoas você faria qualquer sacrifício sem que isso lhe doesse na alma, sem que isso se impusesse como obrigação?
Quantos amigos você tem? Um?
Parabéns. Você é uma pessoa de muita sorte.
Viram o filme? Somente Elas (Boys on the Side). Fala de amizade, como eu acho que amizade deve ser.
Quantos amigos você tem? 10? 15?
Quantas pessoas você tem certeza de que estarão ao seu lado quando tudo tiver dado errado? Quantas comemorarão ao teu lado, sinceramente felizes pelo teu sucesso, ainda que a vida delas não esteja tão bem quanto a sua? Para quantas pessoas você deseja somente o bem, o melhor, ainda que elas se sobressaiam mais que você?
Quantos amigos você tem? 7? 8?
Para quantas pessoas você é capaz de falar pessoalmente e tecer críticas construtivas quando você vê que elas erraram em vez de comentar com os outros as falhas que elas cometeram? Quantas pessoas você é capaz de defender das observações maldosas dos outros sem aderir às críticas? Com quantas pessoas você é capaz de conversar, ouvir, se abrir, sem competir, sem atacar, sem se defender?
Quantos amigos você tem? 3? 4?
Para quantas pessoas você conta suas fragilidades sem medo delas serem usadas contra você? Para quantas pessoas você pode ligar no meio da madrugada e pedir carinho, perdão, conselhos? Por quantas pessoas você faria qualquer sacrifício sem que isso lhe doesse na alma, sem que isso se impusesse como obrigação?
Quantos amigos você tem? Um?
Parabéns. Você é uma pessoa de muita sorte.
Viram o filme? Somente Elas (Boys on the Side). Fala de amizade, como eu acho que amizade deve ser.
quinta-feira, dezembro 19, 2002
Carros que voam - Minha amiga CatiaFabi (não, nada a ver com a Cátia Flávia, Godiva do Irajá) mandou este texto. Gostei muito. Combina com final de ano e com aquele balanço básico que a gente faz das coisas importantes que foram ficando pelo caminho.
O carro voador
Ela dizia que seu carro podia voar. E nós
acreditávamos. No banco de trás, pulando e gritando
euforicamente, esperávamos pela decolagem – que,
naturalmente, nunca aconteceu. Mas isso não importava.
Nunca ter levantado vôo enquanto o automóvel de minha
mãe ganhava velocidade pelas avenidas paulistanas não
chegou a tirar a diversão da brincadeira. Fato é que
meus irmãos e eu não duvidávamos da capacidade
supersônica do carro, o único no mundo, garantia minha
mãe, equipado com um mecanismo que, uma vez acionado,
faria com que as rodas saíssem do chão. Ela mostrava o
dispositivo, que ficava bem embaixo da direção, ao
alcance da mão esquerda do motorista. A alavanca
estava lá, podíamos ver. Minha mãe não mentia. Era
mesmo pura falta de sorte que os sinais fechassem ou
que um carro mais lento entrasse na nossa frente
sempre que o TL azul calcinha ganhava aceleração. Mas
a matriarca era incansável. Tendo uma oportunidade, ou
alguns metros de pista a sua frente, dava o comando;
ia tentar decolar. E nós começavamos a pular, bêbados
da mais pura euforia – a infantil.
Semana passada andei de carro com minha mãe novamente.
Dessa vez, era eu ao volante. Dessa vez, o carro era
meu e não dela. Dessa vez, mal nos falávamos. Olhei
para o lado, vi a fisionomia envelhecida da genitora e
lembrei do TL azul calcinha. Lembrei da algazarra sem
fim que meus irmão e eu fazíamos no banco de trás.
Lembrei da segurança imponente que minha mãe nos
passava, controlando o carro com majestade, fazendo
com que nós nos sentíssemos seguros e protegidos, a
ponto de não termos medo de voar. Mas, dessa vez, a
indefesa era ela. Dessa vez, quem precisava se sentir
protegida era ela, não eu.
O momento era inadequado
Quase trinta anos se passaram, minhas irmãs casaram,
meu irmão era médico, e para mim ela não olhava havia
alguns invernos, desde que anunciei que era gay. Olhei
para a frente e vi as pistas da 23 de maio, uma das
avenidas mais movimentadas de São Paulo, vazias – tipo
de fenômeno que só ocorre entre 3 e 5 da manhã na
capital paulistana. Eram cinco da manhã. Pensei em
dizer que ia tentar decolar. Mas não achei que ela
fosse entender, ou lembrar, muito menos rir. Pensando
bem, o momento era inadequado. Estávamos a caminho do
Aeroporto de Congonhas e eu precisava colocar minha
mãe no primeiro vôo para o Rio. Há poucas horas, minha
avó tinha sido internada na UTI de um hospital carioca
(a Nonna, a que nunca havia ficado doente). Os médicos
não davam muita esperança.
Tentei imaginar o que eu estaria sentindo se soubesse
que estava indo me despedir dela, minha mãe, a pessoa
que me colocou no mundo, que me deu colo, que ficou ao
meu lado quando tive febre, que acordava junto comigo
para cortar e colocar açúcar no mamão que eu gostava
de comer no café-da-manhã, antes de ir para a aula.
Senti um pouco da dor que ela devia estar sentindo
naquele momento. Olhei mais uma vez para o lado e vi
minha mãe, cabelos brancos, expressão sofrida. Tentei
imaginar de onde ela tirava forças quando éramos
pequenos para ser tão divertida, tão cúmplice.
Naquela manhã, a caminho do aeroporto, no comando do
carro e mais velha do que minha mãe era quando dizia
que ia fazer o TL decolar, admirei profundamente a
capacidade dela de ter sido tão criança mesmo sendo
responsável por quatro outras vidas. Crescemos,
mudamos, brigamos – envelhecemos. Olhei para a frente
e vi as pistas da 23 de maio vazias. Olhei para o lado
e vi minha mãe – indefesa, expressão funda, dor
estocada, seriedade senil.
Comecei a acelerar pelas faixas livres da avenida
enorme.
Vou tentar decolar, anunciei.
Pela primeira vez em muitos anos, minha mãe olhou para
mim. E sorriu.
*A carioca Milly Lacombe, 35 anos, é jornalista. Seu
e-mail: millylacombe22@aol.com
O carro voador
Ela dizia que seu carro podia voar. E nós
acreditávamos. No banco de trás, pulando e gritando
euforicamente, esperávamos pela decolagem – que,
naturalmente, nunca aconteceu. Mas isso não importava.
Nunca ter levantado vôo enquanto o automóvel de minha
mãe ganhava velocidade pelas avenidas paulistanas não
chegou a tirar a diversão da brincadeira. Fato é que
meus irmãos e eu não duvidávamos da capacidade
supersônica do carro, o único no mundo, garantia minha
mãe, equipado com um mecanismo que, uma vez acionado,
faria com que as rodas saíssem do chão. Ela mostrava o
dispositivo, que ficava bem embaixo da direção, ao
alcance da mão esquerda do motorista. A alavanca
estava lá, podíamos ver. Minha mãe não mentia. Era
mesmo pura falta de sorte que os sinais fechassem ou
que um carro mais lento entrasse na nossa frente
sempre que o TL azul calcinha ganhava aceleração. Mas
a matriarca era incansável. Tendo uma oportunidade, ou
alguns metros de pista a sua frente, dava o comando;
ia tentar decolar. E nós começavamos a pular, bêbados
da mais pura euforia – a infantil.
Semana passada andei de carro com minha mãe novamente.
Dessa vez, era eu ao volante. Dessa vez, o carro era
meu e não dela. Dessa vez, mal nos falávamos. Olhei
para o lado, vi a fisionomia envelhecida da genitora e
lembrei do TL azul calcinha. Lembrei da algazarra sem
fim que meus irmão e eu fazíamos no banco de trás.
Lembrei da segurança imponente que minha mãe nos
passava, controlando o carro com majestade, fazendo
com que nós nos sentíssemos seguros e protegidos, a
ponto de não termos medo de voar. Mas, dessa vez, a
indefesa era ela. Dessa vez, quem precisava se sentir
protegida era ela, não eu.
O momento era inadequado
Quase trinta anos se passaram, minhas irmãs casaram,
meu irmão era médico, e para mim ela não olhava havia
alguns invernos, desde que anunciei que era gay. Olhei
para a frente e vi as pistas da 23 de maio, uma das
avenidas mais movimentadas de São Paulo, vazias – tipo
de fenômeno que só ocorre entre 3 e 5 da manhã na
capital paulistana. Eram cinco da manhã. Pensei em
dizer que ia tentar decolar. Mas não achei que ela
fosse entender, ou lembrar, muito menos rir. Pensando
bem, o momento era inadequado. Estávamos a caminho do
Aeroporto de Congonhas e eu precisava colocar minha
mãe no primeiro vôo para o Rio. Há poucas horas, minha
avó tinha sido internada na UTI de um hospital carioca
(a Nonna, a que nunca havia ficado doente). Os médicos
não davam muita esperança.
Tentei imaginar o que eu estaria sentindo se soubesse
que estava indo me despedir dela, minha mãe, a pessoa
que me colocou no mundo, que me deu colo, que ficou ao
meu lado quando tive febre, que acordava junto comigo
para cortar e colocar açúcar no mamão que eu gostava
de comer no café-da-manhã, antes de ir para a aula.
Senti um pouco da dor que ela devia estar sentindo
naquele momento. Olhei mais uma vez para o lado e vi
minha mãe, cabelos brancos, expressão sofrida. Tentei
imaginar de onde ela tirava forças quando éramos
pequenos para ser tão divertida, tão cúmplice.
Naquela manhã, a caminho do aeroporto, no comando do
carro e mais velha do que minha mãe era quando dizia
que ia fazer o TL decolar, admirei profundamente a
capacidade dela de ter sido tão criança mesmo sendo
responsável por quatro outras vidas. Crescemos,
mudamos, brigamos – envelhecemos. Olhei para a frente
e vi as pistas da 23 de maio vazias. Olhei para o lado
e vi minha mãe – indefesa, expressão funda, dor
estocada, seriedade senil.
Comecei a acelerar pelas faixas livres da avenida
enorme.
Vou tentar decolar, anunciei.
Pela primeira vez em muitos anos, minha mãe olhou para
mim. E sorriu.
*A carioca Milly Lacombe, 35 anos, é jornalista. Seu
e-mail: millylacombe22@aol.com
quarta-feira, dezembro 18, 2002
Cheiros - Provocada pelo Mikahil, lembrei de como eu sou cheirólotra. Tudo e todos, para mim, antes de mais nada, têm cheiro. Nunca simpatizaria com alguém cujo cheiro não me agrada. Nunca permaneceria em lugar algum que tivesse cheiro desagradável (a menos que fosse obrigada, claro).
Para vocês terem uma idéia, se estou com o nariz congestionado, namorar é algo fora de questão.
Lembrei agora que Natal pra mim ainda tem o cheiro da cera em pasta que a minha vó usava no assoalho (!) da casa dela em Pelotas. Nós chegávamos para passar as festas com ela e a casa tava toda limpinha, esperando a gente.
Para vocês terem uma idéia, se estou com o nariz congestionado, namorar é algo fora de questão.
Lembrei agora que Natal pra mim ainda tem o cheiro da cera em pasta que a minha vó usava no assoalho (!) da casa dela em Pelotas. Nós chegávamos para passar as festas com ela e a casa tava toda limpinha, esperando a gente.
2003 - Tenho já o meu pedido feito para o ano novo. Quero muitos frios na barriga. É, isso mesmo: frios na barriga. Quero frio na barriga de apreensão por ainda não saber se um plano deu certo, frio na barriga por não saber se ele vai ligar. Frio na barriga porque ele ligou e vamos nos encontrar logo. Frio na barriga por começar um trabalho novo e dasafiador. Frio na barriga porque aprontei um trabalho e quero ver se vão gostar. Frio na barriga ao desembarcar numa cidade de que gosto. Frio na barriga pela expectativa diante das realizações dos meus amigos. Frio na barriga diante de duas opções. Frio na barriga ao olhar dentro dos olhos de alguém. Frio na barriga pelas responsabilidades que hão de vir. Frio na barrriga por ouvir que alguém que eu amo me ama também. Isso. Muitos frios na barriga. O melhor combustível do mundo.
E aí, já encomendou seu frio na barriga pra 2003?
E aí, já encomendou seu frio na barriga pra 2003?
terça-feira, dezembro 17, 2002
Futilidades - Não, não ando fútil. Só estou feliz. E mulher é assim: tá deprê, vai ao shopping; tá feliz, vai ao shopping. No primeiro caso, pra comprar uma roupinha legal e se sentir melhor; no segundo, para fazer uma super produção arrasante compatível com seu estado de espírito. O meu agora seria uma combinação de Escola de Samba Joãozinho Trinta, Star Wars George Lucas e Qualquer Coisa James Cameron (I'm the queen of the woooorrrllllddd!)
Sim, eu sei, isso dá e passa. Mas deixa eu aproveitar a minha fase maníaca enquanto a depressiva não vem.
Sim, eu sei, isso dá e passa. Mas deixa eu aproveitar a minha fase maníaca enquanto a depressiva não vem.
segunda-feira, dezembro 16, 2002
Indicador Musical de Humor (IMH): Todo Amor que Houver Nessa Vida, Cássia Eller Acústico (CAPTARAM, NÉ?)
"Eu quero a sorte de um amor tranqüilo, com sabor de fruta mordida
Nós, na batida, no embalo da rede, matando a sede na saliva
Ser teu pão, ser tua comida, todo amor que houver nessa vida
E algum trocado pra dar garantia
E ser artista no nosso convívio pelo inferno e céu de todo dia
Pra poesia que a gente não vive transformar o tédio em melodia
Ser teu pão, ser tua comida, todo amor que houver nessa vida
E algum veneno anti monotonia
E se eu achar a sua fonte escondida, te alcanço em cheio o mel e a ferida
E o corpo inteiro como um furacão: boca, nuca, mão e a tua mente, não
Ser teu pão, ser tua comida, todo amor que houver nessa vida
E algum remédio que me dê alegria
Índice de Intolerância com a Burrice Alheia (INIBA): 0% (MAS NÃO ABUSEM!)
"Eu quero a sorte de um amor tranqüilo, com sabor de fruta mordida
Nós, na batida, no embalo da rede, matando a sede na saliva
Ser teu pão, ser tua comida, todo amor que houver nessa vida
E algum trocado pra dar garantia
E ser artista no nosso convívio pelo inferno e céu de todo dia
Pra poesia que a gente não vive transformar o tédio em melodia
Ser teu pão, ser tua comida, todo amor que houver nessa vida
E algum veneno anti monotonia
E se eu achar a sua fonte escondida, te alcanço em cheio o mel e a ferida
E o corpo inteiro como um furacão: boca, nuca, mão e a tua mente, não
Ser teu pão, ser tua comida, todo amor que houver nessa vida
E algum remédio que me dê alegria
Índice de Intolerância com a Burrice Alheia (INIBA): 0% (MAS NÃO ABUSEM!)
Redenção à pedidos
Para quem não conhece, este é o Parque Farroupilha, também conhecido como "Redenção". Fica a 2 quadras do meu apê (morram de inveja!!) e é uma coisa linda. A Cidade Baixa e o Bom Fim, os similares porto-alegrenses do Quartier Latin e Marais de Paris, são separados, ou unidos, conforme a preferência do freguês, pela "Redença". Depois de morar na Cidade Baixa, fico pré-disposta a não me adaptar a nenhum outro lugar do mundo.
Nada mais Porto Alegre que este poeta alegretense que se apaixonou pela cidade deitada às margens do Guaíba. Faço minha sua declaração de amor:
O MAPA
(Mário Quintana)
Olho o mapa da cidade
Como quem examinasse
A anatomia de um corpo...
(É nem que fosse meu corpo!)
Sinto uma dor esquisita
Das ruas de Porto Alegre
Onde jamais passarei...
Há tanta esquina esquisita
Tanta nuança de paredes
Há tanta moça bonita
Nas ruas que não andei
(E há uma rua encantada Que nem em sonhos sonhei...)
Quando eu for, um dia desses,
Poeira ou folha levada
No vento da madrugada,
Serei um pouco do nada Invisível, delicioso
Que faz com que o teu ar
Pareça mais um olhar
Suave mistério amoroso
Cidade de meu andar (Deste já tão longo andar!)
E talvez de meu repouso...
Para quem não conhece, este é o Parque Farroupilha, também conhecido como "Redenção". Fica a 2 quadras do meu apê (morram de inveja!!) e é uma coisa linda. A Cidade Baixa e o Bom Fim, os similares porto-alegrenses do Quartier Latin e Marais de Paris, são separados, ou unidos, conforme a preferência do freguês, pela "Redença". Depois de morar na Cidade Baixa, fico pré-disposta a não me adaptar a nenhum outro lugar do mundo.
Nada mais Porto Alegre que este poeta alegretense que se apaixonou pela cidade deitada às margens do Guaíba. Faço minha sua declaração de amor:
O MAPA
(Mário Quintana)
Olho o mapa da cidade
Como quem examinasse
A anatomia de um corpo...
(É nem que fosse meu corpo!)
Sinto uma dor esquisita
Das ruas de Porto Alegre
Onde jamais passarei...
Há tanta esquina esquisita
Tanta nuança de paredes
Há tanta moça bonita
Nas ruas que não andei
(E há uma rua encantada Que nem em sonhos sonhei...)
Quando eu for, um dia desses,
Poeira ou folha levada
No vento da madrugada,
Serei um pouco do nada Invisível, delicioso
Que faz com que o teu ar
Pareça mais um olhar
Suave mistério amoroso
Cidade de meu andar (Deste já tão longo andar!)
E talvez de meu repouso...
sexta-feira, dezembro 13, 2002
IMH: Come away with me, Norah Jones (Segue a letra da música. Para quem quiser, tem MP3 na página da moça).
Come away with me in the night
Come away with me
And I will write you a song
Come away with me on a bus
Come away where they can't tempt us
With their lies
I want to walk with you
On a cloudy day
In fields where the yellow grass grows knee-high
So won't you try to come
Come away with me and we'll kiss
On a mountaintop
Come away with me
And I'll never stop loving you
And I want to wake up with the rain
Falling on a tin roof
While I'm safe there in your arms
So all I ask is for you
To come away with me in the night
Come away with me
INIBA: não registramos sinais perceptíveis de intolerância
Come away with me in the night
Come away with me
And I will write you a song
Come away with me on a bus
Come away where they can't tempt us
With their lies
I want to walk with you
On a cloudy day
In fields where the yellow grass grows knee-high
So won't you try to come
Come away with me and we'll kiss
On a mountaintop
Come away with me
And I'll never stop loving you
And I want to wake up with the rain
Falling on a tin roof
While I'm safe there in your arms
So all I ask is for you
To come away with me in the night
Come away with me
INIBA: não registramos sinais perceptíveis de intolerância
quinta-feira, dezembro 12, 2002
And so you came
And so you came,
Walking through the rain
Slightly by the day
A moonlight dressed in blue
Brown eyes wide opened
Little smile always hoping
A certain word unspoken.
And then I’ve gone
Right after you
Searching for more of this light unknown
Wanting more of you to say
Wondering if you’d let me stay.
And so you came,
Walking through the rain
Slightly by the day
A moonlight dressed in blue
Brown eyes wide opened
Little smile always hoping
A certain word unspoken.
And then I’ve gone
Right after you
Searching for more of this light unknown
Wanting more of you to say
Wondering if you’d let me stay.
quarta-feira, dezembro 11, 2002
segunda-feira, dezembro 09, 2002
domingo, dezembro 08, 2002
Bukowski- "nenhuma dor significa o fim da sensibilidade; cada uma de nossas alegrias é uma barganha com o diabo."
Será que é mesmo assim, que para cada alegria a gente sabe que tem uma dor em troca? Cada vez acredito mais nisso. Não como uma coisa ruim. Os limites são sempre mais interessantes e nos fazem sentir mais vivos. Há quem se permita viver grandes alegrias, sem medo das grandes dores em vez de diminuir o espectro e ir vivendo aos goles comedidos. Espero não deixar de ser corajosa nas barganhas.
Será que é mesmo assim, que para cada alegria a gente sabe que tem uma dor em troca? Cada vez acredito mais nisso. Não como uma coisa ruim. Os limites são sempre mais interessantes e nos fazem sentir mais vivos. Há quem se permita viver grandes alegrias, sem medo das grandes dores em vez de diminuir o espectro e ir vivendo aos goles comedidos. Espero não deixar de ser corajosa nas barganhas.
sexta-feira, dezembro 06, 2002
Uma mensagem imperial
KAFKA
O imperador – assim dizem – enviou a ti, súdito solitário e lastimável, sombra oimperador enviou, do leito de morte, uma mensagem. Fez ajoelhar-se o mensageiro ao pé da cama e sussurrou-lhe a mensagem no ouvido; tão importante lhe parecia, que mandou repeti-la em seu próprio ouvido. Assentindo com a cabeça, confirmou a exatidão das palavras. E, diante da turba reunida para assistir à sua morte – haviam derrubado todas as paredes impeditivas, e na escadaria em curva ampla e elevada, dispostos em círculo,
estavam os grandes do império –, diante de todos, despachou o mensageiro. De pronto, este se pôs em marcha, homem vigoroso, incansável. Estendendo ora um braço, ora outro, abre passagem em meio à multidão; quando encontra obstáculo, aponta no peito a insígnia do sol; avança facilmente, como ninguém. Mas a multidão é enorme; suas moradas não têm fim. Fosse livre o terreno, como voaria, breve ouvirias na porta o golpe magnífico de seu punho. Mas, ao contrário, esforça-se inutilmente; comprime-se nos aposentos do palácio central; jamais conseguirá atravessá-los; e se conseguisse, de nada valeria; precisaria empenhar-se em descer as escadas; e se as vencesse, de nada valeria; teria que percorrer os pátios; e depois dos pátios, o segundo palácio circundante; e novamente escadas e pátios; e mais outro palácio; e assim por milênios; e quando finalmente escapasse pelo último portão – mas
isto nunca, nunca poderia acontecer – chegaria apenas à capital, o centro do mundo, onde se acumula a prodigiosa escória. Ninguém consegue passar por aí, muito menos com a mensagem de um morto. Mas, sentado à janela, tu a imaginas, enquanto a noite cai.
(De Um Médico Rural) Tradução: Lúcia Nagib
KAFKA
O imperador – assim dizem – enviou a ti, súdito solitário e lastimável, sombra oimperador enviou, do leito de morte, uma mensagem. Fez ajoelhar-se o mensageiro ao pé da cama e sussurrou-lhe a mensagem no ouvido; tão importante lhe parecia, que mandou repeti-la em seu próprio ouvido. Assentindo com a cabeça, confirmou a exatidão das palavras. E, diante da turba reunida para assistir à sua morte – haviam derrubado todas as paredes impeditivas, e na escadaria em curva ampla e elevada, dispostos em círculo,
estavam os grandes do império –, diante de todos, despachou o mensageiro. De pronto, este se pôs em marcha, homem vigoroso, incansável. Estendendo ora um braço, ora outro, abre passagem em meio à multidão; quando encontra obstáculo, aponta no peito a insígnia do sol; avança facilmente, como ninguém. Mas a multidão é enorme; suas moradas não têm fim. Fosse livre o terreno, como voaria, breve ouvirias na porta o golpe magnífico de seu punho. Mas, ao contrário, esforça-se inutilmente; comprime-se nos aposentos do palácio central; jamais conseguirá atravessá-los; e se conseguisse, de nada valeria; precisaria empenhar-se em descer as escadas; e se as vencesse, de nada valeria; teria que percorrer os pátios; e depois dos pátios, o segundo palácio circundante; e novamente escadas e pátios; e mais outro palácio; e assim por milênios; e quando finalmente escapasse pelo último portão – mas
isto nunca, nunca poderia acontecer – chegaria apenas à capital, o centro do mundo, onde se acumula a prodigiosa escória. Ninguém consegue passar por aí, muito menos com a mensagem de um morto. Mas, sentado à janela, tu a imaginas, enquanto a noite cai.
(De Um Médico Rural) Tradução: Lúcia Nagib
quinta-feira, dezembro 05, 2002
As faltas improváveis - A falta que me fazes não é a do teu sexo de afundando em minhas carnes, de tuas mãos enredando os meus cabelos, dos teus fluidos secando entre meus pelos. Sinto falta do teu sorriso largo a contra-gosto, porque não gostas de mostrar contentamento, das brincadeiras infantis que nem tu te sonhavas capaz, dos segredos compartilhados no meio das banalidades do dia. Aí é onde me encontro única na tua vida. Disso é que sinto falta. Nisso me fazes feliz inteira.
quarta-feira, dezembro 04, 2002
Aviso de Utilidade Pública - Informo, a quem interessar possa, que o meu IMH de hoje mudou para Zeca Baleiro, Petshop Mundo Cão. Como diria Zeca, meu pajé, tô com vontade de mandar flores pro delegado, de bater na porta do vizinho e desejar bom dia, de abraçar o português da padaria.
Por mim pode chover cântaros, canivete, sapo (como no filme Magnolia), cachorro raivoso, até água. Não me importo. Aliás, hoje eu só me exporto. De preferência para Júpiter ou Marte, para ver como é a primavera por lá. Quem sabe o meu IMH devesse ser Fly me to the Moon, com Old Blue Eyes ? Parece assaz adequado. É isso. Nóis sofre mais nóis goza. Fui. Hoje só amanhã. Que eu vou pingar meu colírio alucinógeno.
Por mim pode chover cântaros, canivete, sapo (como no filme Magnolia), cachorro raivoso, até água. Não me importo. Aliás, hoje eu só me exporto. De preferência para Júpiter ou Marte, para ver como é a primavera por lá. Quem sabe o meu IMH devesse ser Fly me to the Moon, com Old Blue Eyes ? Parece assaz adequado. É isso. Nóis sofre mais nóis goza. Fui. Hoje só amanhã. Que eu vou pingar meu colírio alucinógeno.
Um beijo - Não conheço melhor descrição de um beijo apaixonado que esta aí embaixo. Passei muito tempo tentando traduzir o que se sente nessa hora, aquele misto de falta de nada, morte, vida, fúria, ânsia, parece que vai morrer e depois parece que a gente vai nascer, mais uma vez, ressucitar.
Nasci pra ser um animal sentimental, como diria Renato. Tem o lado positivo e o negativo, claro.
Nasci pra ser um animal sentimental, como diria Renato. Tem o lado positivo e o negativo, claro.
(Hilda Hilst)
Colada à tua boca a minha desordem.
O meu vasto querer.
O incompossível se fazendo ordem.
Colada à tua boca, mas descomedida
Árdua
Construtor de ilusões examino-te sôfrega
Como se fosses morrer colado à minha boca.
Como se fosse nascer
E tu fosses o dia magnânimo
Eu te sorvo extremada à luz do amanhecer.
( Do Desejo - 1992)
segunda-feira, dezembro 02, 2002
Quebra-cabeças - acho que a pessoa certa pra gente é como uma peça mutante que encaixa no último espaço que resta, também mutante. Em cada momento da vida nossas lacunas e nossas sobras, nossas garras e golfos, nossos côncavos e nossos convexos são diferentes, somos seres mutantes. Para cada momento, uma peça de quebra-cabeças diferente encaixa. Pode ter estado lá, bem ao lado da nossa paisagem polar inacabada, e nunca ter encaixado antes e um dia passa a ser a peça perfeita. Pode ter tido quase tudo para encaixar (sobrava uma arestinha de nada) e de repente, não encaixar mais em hipótese alguma. Pode ter encaixado sempre e continuar preenchendo todos os espaços, que vão se modificando e podemos nunca ter a sorte de achar a peça certa no momento certo. O divertido é tentar terminar de montar um quebra-cabeças infinito.
sábado, novembro 30, 2002
Zeca Beleiro & virose - Fui ao show do Zeca Baleiro na quinta à noite. Foi uma obra. Já tinha assistido outros shows dele, mas este foi o mais energético. O cara se supera. Eu já tinha até começado a achá-lo meio comercialzinho demais, mas o novo CD resgata o caldeirão de sons surpreendentes e, com mais qualidade. Ele pôs o Teatro da OSPA pra dançar. O pessoal tentou ficar sentado e não conseguiu.
Pulei tanto que pus o vírus pra fora. Explico: cheguei em casa e uma virose gastro-intestinal se manifestou. Foram 36h bem sofridas. Agora, como diria Angie, EBO (estou bem obrigada) mas continuo na sopinha. Hilda, minha gata, adorou: passou a sexta feira toda matando as saudades de me afofar.
Pulei tanto que pus o vírus pra fora. Explico: cheguei em casa e uma virose gastro-intestinal se manifestou. Foram 36h bem sofridas. Agora, como diria Angie, EBO (estou bem obrigada) mas continuo na sopinha. Hilda, minha gata, adorou: passou a sexta feira toda matando as saudades de me afofar.
Para os que curtem, vai aí o Dicionário Jurídico do Seu Creyssom:
ARRESTO:
Arréstio é um pôquinho di comidia que sóbria pra jântia, ou pra malmítia.
LIMINAR:
É quândio um bandídio da comunidade manda liminar ôtro cara di que ele não gostia.
AGRAVO:
É mutio simpres, é o mêrmo qui amemorizo, ou adecoro.
APENSO:
Essa é fáciu. Apensio, por isso sô inteligenti.
HABEAS CORPUS:
Si fô sem conssentimentio, é istrupo.
INTIMAÇÃO:
Intimassão é o momentiu di intimidadi di um cazau.
PREGÃO:
É a mais óbivia. É um prégio mutio grandi.
ARROLAMENTO:
Arrolhamentio poder ser duas coisa: O atio de botiar a rolia na garrafa ou di rolá uma coisa mutio pesádia.
PENSÃO ALIMENTÍCIA:
Na penção alimentiça pódesse cumer mutias coisas, dependi di qual é o prátio du dia.
CARTÓRIO:
É o mermu qui supusitório, só qui di cartião.
ACÓRDÃO:
Éssa é ridicola. É qui todus fasem dimanhãnzinha.
FÓRUM:
É o passadio do verbo fumu. Por exemprio: Eles fórum mais num voltiarum.
COMISSÁRIO:
É quem vivi di comição: Exemprio: garsson e franelinha.
ARRESTO:
Arréstio é um pôquinho di comidia que sóbria pra jântia, ou pra malmítia.
LIMINAR:
É quândio um bandídio da comunidade manda liminar ôtro cara di que ele não gostia.
AGRAVO:
É mutio simpres, é o mêrmo qui amemorizo, ou adecoro.
APENSO:
Essa é fáciu. Apensio, por isso sô inteligenti.
HABEAS CORPUS:
Si fô sem conssentimentio, é istrupo.
INTIMAÇÃO:
Intimassão é o momentiu di intimidadi di um cazau.
PREGÃO:
É a mais óbivia. É um prégio mutio grandi.
ARROLAMENTO:
Arrolhamentio poder ser duas coisa: O atio de botiar a rolia na garrafa ou di rolá uma coisa mutio pesádia.
PENSÃO ALIMENTÍCIA:
Na penção alimentiça pódesse cumer mutias coisas, dependi di qual é o prátio du dia.
CARTÓRIO:
É o mermu qui supusitório, só qui di cartião.
ACÓRDÃO:
Éssa é ridicola. É qui todus fasem dimanhãnzinha.
FÓRUM:
É o passadio do verbo fumu. Por exemprio: Eles fórum mais num voltiarum.
COMISSÁRIO:
É quem vivi di comição: Exemprio: garsson e franelinha.
quarta-feira, novembro 27, 2002
Da série "Ditos Pelotenses": Quando na minha família se está fazendo alguma coisa e já se encheu o saco, quer terminar logo, ainda que feito não tão bem quanto deveria, se usa a expressão "Pra quem é, bacallhau basta".
A expressão é portuguesa e se deve ao fato de que em Portugal o bacalhau chegava com fartura às classes mais modestas. Achei isso em uma página de turismo portuguesa.
A expressão é portuguesa e se deve ao fato de que em Portugal o bacalhau chegava com fartura às classes mais modestas. Achei isso em uma página de turismo portuguesa.
IT'S RAINING MEN
(The Weather Girls)
Hi (hi), we're your weather girls (uh-huh)
And have we got news for you (you better listen)
Get ready all you lonely girls
And leave those umbrellas at home (all right)
Humidity is rising (uh rising)
Barometer's getting low (how low girl, uh-oh)
According to all sources (what sources now)
The street's the place to go (we better hurry up)
'Cause tonight for the first time (first time)
Just about half past 10 (half past 10)
For the first time in history
It's gonna start raining men (start raining men)
It's raining men, Hallelujah
It's raining men, Amen
I'm gonna go out, I'm gonna let myself get
Absolutely soaking wet
It's raining men, Hallelujah
It's raining men, every specimen
Tall, blond, dark and lean
Rough and tough and strong and mean
God bless Mother Nature
She's a single woman too
She took on the heavens
And she did what she had to do
She fought every angel
She rearranged the sky
So that each and every woman
Could find the perfect guy
It's raining men, Hallelujah
It's raining men, Amen
It's raining men, Hallelujah
It's raining men, Amen
I hear stormy weather movin' in
'Bout to break it, about to begin
Hear the thunder, don't you lose your head
Rip up the roof and stay in bed (rip up the roof and stay in bed)
God bless Mother Nature
She's a single woman too
She took on the heavens
And she did what she had to do
She fought every angel
She rearranged the sky
So that each and every woman
Could find the perfect guy
Ooh it's raining men down
Humidity is rising (humidity is rising, yeah it's rising)
Barometer's getting low (it's getting low low low low low low low low low)
(Oh it's getting low)
According to all sources (according to all sources, oh to all sources)
The street's the place to go
Because tonight for the first time (first time)
Just about half past 10 (half past 10)
For the first time in history
It's gonna start raining men (start raining men)
It's raining men (woo), Hallelujah
It's raining men, Amen
It's raining men, Hallelujah
It's raining men, Amen
It's raining men, Hallelujah
It's raining men, Amen
It's raining men, Hallelujah
Woah woah woah woah woah woah, Amen
It's raining men (tall and blond and dark and lean)
It's raining men (and rough and tough and strong and mean)
It's raining men (come on), Hallelujah
It's raining men, Amen
(The Weather Girls)
Hi (hi), we're your weather girls (uh-huh)
And have we got news for you (you better listen)
Get ready all you lonely girls
And leave those umbrellas at home (all right)
Humidity is rising (uh rising)
Barometer's getting low (how low girl, uh-oh)
According to all sources (what sources now)
The street's the place to go (we better hurry up)
'Cause tonight for the first time (first time)
Just about half past 10 (half past 10)
For the first time in history
It's gonna start raining men (start raining men)
It's raining men, Hallelujah
It's raining men, Amen
I'm gonna go out, I'm gonna let myself get
Absolutely soaking wet
It's raining men, Hallelujah
It's raining men, every specimen
Tall, blond, dark and lean
Rough and tough and strong and mean
God bless Mother Nature
She's a single woman too
She took on the heavens
And she did what she had to do
She fought every angel
She rearranged the sky
So that each and every woman
Could find the perfect guy
It's raining men, Hallelujah
It's raining men, Amen
It's raining men, Hallelujah
It's raining men, Amen
I hear stormy weather movin' in
'Bout to break it, about to begin
Hear the thunder, don't you lose your head
Rip up the roof and stay in bed (rip up the roof and stay in bed)
God bless Mother Nature
She's a single woman too
She took on the heavens
And she did what she had to do
She fought every angel
She rearranged the sky
So that each and every woman
Could find the perfect guy
Ooh it's raining men down
Humidity is rising (humidity is rising, yeah it's rising)
Barometer's getting low (it's getting low low low low low low low low low)
(Oh it's getting low)
According to all sources (according to all sources, oh to all sources)
The street's the place to go
Because tonight for the first time (first time)
Just about half past 10 (half past 10)
For the first time in history
It's gonna start raining men (start raining men)
It's raining men (woo), Hallelujah
It's raining men, Amen
It's raining men, Hallelujah
It's raining men, Amen
It's raining men, Hallelujah
It's raining men, Amen
It's raining men, Hallelujah
Woah woah woah woah woah woah, Amen
It's raining men (tall and blond and dark and lean)
It's raining men (and rough and tough and strong and mean)
It's raining men (come on), Hallelujah
It's raining men, Amen
terça-feira, novembro 26, 2002
Sim, eu estou em TESTES DESCONTROL. Para entender o que é um "descontrol", leia a página do 02 Neurônio.
Faça você também Que
gênio-louco é você? Uma criação de O Mundo Insano da Abyssinia
A-do-rei!!!!! Sempre achei que eu era a reencarnação do Dalí.
Você é "O Fabuloso Destino de Amelie Poulain" de Jean Pierre Jeunet. Você é engraçado(a), original. Uma pessoa leve e maravilhosa de se conviver.
Faça você também Que
bom filme é você? Uma criação de
Mundo Insano da Abyssinia
Fiz o teste no Mundo Louco de Abyssinia.
Ai, que legal!!
segunda-feira, novembro 25, 2002
Veríssimo - Coluna de 24/11
A decisão
A moça suspirou fundo, pensou em todas as maneiras como podia mudar a sua vida - casar com um analista de sistemas ou um contrabaixista, entrar para uma ordem religiosa, cortar a carne vermelha e os derivados do leite ou até voltar para Faxinal do Soturno - e finalmente decidiu mudar de nome.
- Vou me chamar Gwyneth.
Não era nada, não era nada, já era um começo.
A decisão
A moça suspirou fundo, pensou em todas as maneiras como podia mudar a sua vida - casar com um analista de sistemas ou um contrabaixista, entrar para uma ordem religiosa, cortar a carne vermelha e os derivados do leite ou até voltar para Faxinal do Soturno - e finalmente decidiu mudar de nome.
- Vou me chamar Gwyneth.
Não era nada, não era nada, já era um começo.
Conspirações - De quebra, estava bizoiano os CD's no Guion quando achei uma versão de La Vie en Rose com a Grace Jones. Como tinha que inteirar 20 pilas para pagar com cartão, acabei levando meio sem olhar (nem precisa), um CD da Elis cantando Tom Jobim. Qual não foi a minha suspresa quando ao ouvir o CD, dei com a mesma versão de Por Toda a Minha Vida que toca no Fale com Ela. Feliz coincidência. A musica tinha me emocionado muito e não pensei que fosse ouvi-la novamente tão cedo. O que será que levou aquele CD até a minha mão?
Cinema - Assiti Full Frontal e Madame Satã neste final de semana, apesar de ter feito provas de um concurso no sábado à tarde e domingo o dia todo. Nada melhor que cinema para desestressar. No entanto, acho que a overdose de raciocínio durante o concurso esgotou este pobre cerebrozinho, porque do filme do Steven Sodebergh só tive uma leve notícia. Agora não sei se eu assisto novamente, naquele espírito de "agora sim é pra valer" ou se desencano. Quanto ao Madame Satã, achei o Ó.
sexta-feira, novembro 22, 2002
Da série "Ditos Pelotenses":
1) quando alguma coisa surpreende negativamente, normalmente de diz algo do tipo "Mas que coisa!" Na minha família, a expressão é "Mas será o pé do cabrito!?" ou ainda "Será o pé do bicho?!" Não me perguntem por quê;
2) quando alguém tem um acesso de fúria, ou de paixão do tipo beijo-beijo-beijo-abraço-abraço-aperto, se diz que tá tendo um "ataque de cinco minutos" ou que "bateu a miudinha";
3) quando a coisa fica feia, complicada, se diz que "preteou pro lado dos castelhanos".
1) quando alguma coisa surpreende negativamente, normalmente de diz algo do tipo "Mas que coisa!" Na minha família, a expressão é "Mas será o pé do cabrito!?" ou ainda "Será o pé do bicho?!" Não me perguntem por quê;
2) quando alguém tem um acesso de fúria, ou de paixão do tipo beijo-beijo-beijo-abraço-abraço-aperto, se diz que tá tendo um "ataque de cinco minutos" ou que "bateu a miudinha";
3) quando a coisa fica feia, complicada, se diz que "preteou pro lado dos castelhanos".
quinta-feira, novembro 21, 2002
Fly me to the Moon - Tenho verdadeira loucura por esta música. Nada melhor para se ouvir quando se está apaixonada. Não que este seja o caso, neste momento.
Tenho versões dela com o Nat King Cole, Frank Sinatra (jovenzinho e madurão em dueto com o Tom), Tom Jobim, Anita O'Day, Keely Smith e compro qualquer versão que eu encontre pela frente. Agora saiu um CD da Diana Krall que tem uma versão ao vivo. Não sou muito chegada em gravações ao vivo, mas vou ter que adquirir para ouvir.
Fly me to the moon
And let me play among the stars
Let me see what spring is like
On Jupiter and Mars
In other words, hold my hand
In other words, darling (baby), kiss me
Fill my life (heart) with song
And let me sing for ever more
You are all I hope for
All I worship and adore
In other words, please be true
In other words, I love you
Tenho versões dela com o Nat King Cole, Frank Sinatra (jovenzinho e madurão em dueto com o Tom), Tom Jobim, Anita O'Day, Keely Smith e compro qualquer versão que eu encontre pela frente. Agora saiu um CD da Diana Krall que tem uma versão ao vivo. Não sou muito chegada em gravações ao vivo, mas vou ter que adquirir para ouvir.
Fly me to the moon
And let me play among the stars
Let me see what spring is like
On Jupiter and Mars
In other words, hold my hand
In other words, darling (baby), kiss me
Fill my life (heart) with song
And let me sing for ever more
You are all I hope for
All I worship and adore
In other words, please be true
In other words, I love you
terça-feira, novembro 19, 2002
À procura - Porto Alegre arde sob meus pés e ando por suas ruas à procura. Para refrescar, só algumas flores de ipê roxo que se desprenderam mais tarde do que deveriam. O calor mormacento dói na pele e o corpo se arrasta pelas sombras qual largarto esgueirando-se da torreira. O cérebro funciona lento e formula perguntas infinitamente mais rápido do que acha respostas. As perguntas pendentes pesam a cabeça. Nenhum oásis de ar-condicionado. As ruas não fazem mais sentido e são como uma teia que me captura em sua trama até que a grande aranha venha me devorar. Bem dizem que quem não sabe o que procura está fadado a não encontrar nada. A mim resta apenas a grande aranha. Que não tarde.
"O Oriente tem. Manhattan tem. Berna não tem, como tudo que é neutro..." - Clarice Lispector e Fernando Sabino foram amigos íntimos e trocaram muitas cartas no início da carreira literária de ambos. Em uma dessas cartas, enviada de Berna, onde morava, Clarice escreveu para Sabino: "Falta demônio nessa cidade".
Falta demônio em toda a Suíça. Falta demônio em muitos lugares. Não falta no Brasil, e talvez seja essa a explicação para o encantamento que o país provoca em estrangeiros e nativos: é o feitiço da irreverência.
Os Beatles flertavam parcimoniosamente com o demônio quando cantavam She loves you, ye, ye, ye, tornando-se mais famosos que Jesus Cristo. Só deixaram o demônio tomar conta em discos como Sargent Pepper's, Álbum Branco e Abbey Road, numa época em que Mick Jagger julgava-se o único representante de Lúcifer na Terra. Sempre houve demônio no rock.
Há demônio no vinho, falta no clericot. Há demônio no jeans, falta no linho. Há demônio nas fotos em preto-e-branco. Há demônio no cinema, não há na televisão.
Há demônio em livros, não há em revistas. Há demônio em Picasso, Almodóvar, Wagner, Janis Joplin. Há demônio na chuva mais do que no sol, há demônio no humor e na ironia, nenhum demônio no pastelão.
Não há demônio em bichos e crianças. Volto atrás sobre as crianças. Em algumas há, mas somente nas muito especiais. As outras pensam que são espertas, mas são apenas mal-educadas.
Na poesia há sempre demônio. Na boa poesia, na poesia marginal, na poesia de amor.
Paixão é quando o demônio está nu. Sexo com quem se ama é muito mais satânico, não precisa ser um amor pra sempre, pode ser um amor de repente, qualquer amor inferniza.
Coca-cola tem mais demônio que guaraná. A inteligência tem mais demônio que a simpatia. A vida tem mais demônio que a morte.
Filosofia, psicanálise, beijo, aventura, silêncio. Um minuto de silêncio. O pensamento é o demo.
O Oriente tem. Manhattan tem. Berna não tem, como tudo que é neutro.
Falta demônio em toda a Suíça. Falta demônio em muitos lugares. Não falta no Brasil, e talvez seja essa a explicação para o encantamento que o país provoca em estrangeiros e nativos: é o feitiço da irreverência.
Os Beatles flertavam parcimoniosamente com o demônio quando cantavam She loves you, ye, ye, ye, tornando-se mais famosos que Jesus Cristo. Só deixaram o demônio tomar conta em discos como Sargent Pepper's, Álbum Branco e Abbey Road, numa época em que Mick Jagger julgava-se o único representante de Lúcifer na Terra. Sempre houve demônio no rock.
Há demônio no vinho, falta no clericot. Há demônio no jeans, falta no linho. Há demônio nas fotos em preto-e-branco. Há demônio no cinema, não há na televisão.
Há demônio em livros, não há em revistas. Há demônio em Picasso, Almodóvar, Wagner, Janis Joplin. Há demônio na chuva mais do que no sol, há demônio no humor e na ironia, nenhum demônio no pastelão.
Não há demônio em bichos e crianças. Volto atrás sobre as crianças. Em algumas há, mas somente nas muito especiais. As outras pensam que são espertas, mas são apenas mal-educadas.
Na poesia há sempre demônio. Na boa poesia, na poesia marginal, na poesia de amor.
Paixão é quando o demônio está nu. Sexo com quem se ama é muito mais satânico, não precisa ser um amor pra sempre, pode ser um amor de repente, qualquer amor inferniza.
Coca-cola tem mais demônio que guaraná. A inteligência tem mais demônio que a simpatia. A vida tem mais demônio que a morte.
Filosofia, psicanálise, beijo, aventura, silêncio. Um minuto de silêncio. O pensamento é o demo.
O Oriente tem. Manhattan tem. Berna não tem, como tudo que é neutro.
domingo, novembro 17, 2002
Cinema - Este final de semana foi de cinema, literalmente.
Na sexta, assisti "Fale com Ela". Gostei muito, muito, muito. Alguém poderia me dizer qual o personagem do cara que faz o Benigno no filme "Lucia e o Sexo"? Eu adorei o filme. O mais interessante nos filmes do Almodóvar é que eu choro em cenas que ninguém chora. Uns até riem.
No sábado, assisti "Cidade de Deus". O filme é realmente maravilhoso e acho que merece todo o confeti. Acho que poderia ser obrigatório para tudo, de vestibular a carteira de motorista. Essa coisa de querer tornar tudo obrigatório é a minha veia Mussolini se manifestando. Mas a gente sabe o que é bom pras pessoas, né??
Hoje tava precisando de um filme com selo ABIC de final feliz. Fui ver "Casamento Grego". A esperança é a última que morre. Se aquela guria feia, nariguda e gorda conseguiu um cara como aquele (ai, ai...), eu também posso. Ah, era só um filme? Então tá. Bem-vinda depressão de final de domingo.
Na sexta, assisti "Fale com Ela". Gostei muito, muito, muito. Alguém poderia me dizer qual o personagem do cara que faz o Benigno no filme "Lucia e o Sexo"? Eu adorei o filme. O mais interessante nos filmes do Almodóvar é que eu choro em cenas que ninguém chora. Uns até riem.
No sábado, assisti "Cidade de Deus". O filme é realmente maravilhoso e acho que merece todo o confeti. Acho que poderia ser obrigatório para tudo, de vestibular a carteira de motorista. Essa coisa de querer tornar tudo obrigatório é a minha veia Mussolini se manifestando. Mas a gente sabe o que é bom pras pessoas, né??
Hoje tava precisando de um filme com selo ABIC de final feliz. Fui ver "Casamento Grego". A esperança é a última que morre. Se aquela guria feia, nariguda e gorda conseguiu um cara como aquele (ai, ai...), eu também posso. Ah, era só um filme? Então tá. Bem-vinda depressão de final de domingo.
Café sem açúcar - Sim, eu sei que tenho estado meio amarga. Prometo melhorar. Prometo tentar melhorar. Eu não perco esta mania de esperniar. Quem manda ler Bukowski? Ainda se servisse para eu cansar de esperniar, me resignar e me convencer que não tem jeito, vá lá. Mas que nada. Sigo esperniando contra todas as evidências.
Acho que vou ter que passar uma fase lendo Polyanna e Polyanna Moça.
Acho que vou ter que passar uma fase lendo Polyanna e Polyanna Moça.
sexta-feira, novembro 15, 2002
Insondável - Tem pessoas que se encontram e por algum motivo estranho, é como se tivessem nascido pra se encontrar. Ninguém mais no mundo entende melhor suas ânsias, desejos, pirações, fantasias, insatisfações, planos, metas, tristezas. Ninguém mais te instiga e desfia tanto. Ninguém mais te faz sentir como se o melhor momento do mundo fosse aquele em que o cheiro dela chega nas tuas narinas. Você sente que não te falta mais nada, quando teus lábios tocam os dela: aquele instante é o começo e o fim do teu universo.
Até aí tudo bem. Mas o que a gente faz quando os mundos não se misturam e a única forma de se encontrar é inventando um mundo próprio, além das circunstâncias e dos outros?
Bem, daí um sabe do outro, como nenhum menino sabe de si mesmo e se salvam da sombra de todos os seus espelhos, enquanto lhes atormentam as furiosas serpentes da solidão e lhes invadem o peito, um cardume de ânsias.
Até aí tudo bem. Mas o que a gente faz quando os mundos não se misturam e a única forma de se encontrar é inventando um mundo próprio, além das circunstâncias e dos outros?
Bem, daí um sabe do outro, como nenhum menino sabe de si mesmo e se salvam da sombra de todos os seus espelhos, enquanto lhes atormentam as furiosas serpentes da solidão e lhes invadem o peito, um cardume de ânsias.
quinta-feira, novembro 14, 2002
Narciso
Enquanto nos atormentam as furiosas serpentes da
solidão
Eu sei de ti, como nenhum menino sabe de si mesmo
E te salvo da sombra de todos os teus espelhos
De onde emergem intactas as imagens claras da
compaixão
E cai no fundo das águas o céu do verão
Frutas vermelhas amadurecem o peco desejo
Há um cardume de ânsias mergulhadas no peito
Estás com ar transfigurado, a insone paixão
Nunca abandona o insondável aquário
E disfarças como ontem o inevitável beijo
Anunciando a Narciso seu adiado naufrágio
– José Carlos Capinam
publicado por Fausto Rêgo
Enquanto nos atormentam as furiosas serpentes da
solidão
Eu sei de ti, como nenhum menino sabe de si mesmo
E te salvo da sombra de todos os teus espelhos
De onde emergem intactas as imagens claras da
compaixão
E cai no fundo das águas o céu do verão
Frutas vermelhas amadurecem o peco desejo
Há um cardume de ânsias mergulhadas no peito
Estás com ar transfigurado, a insone paixão
Nunca abandona o insondável aquário
E disfarças como ontem o inevitável beijo
Anunciando a Narciso seu adiado naufrágio
– José Carlos Capinam
publicado por Fausto Rêgo
quarta-feira, novembro 13, 2002
To our troubled evolution
Have no faith in constitution
There is no bloody revolution
We are spirits in the material world
Our so-called leaders speak
With words they try to jail you
They subjugate the meek
But it's the rethoric of failure
We are spirits in the material world
Where does the answer lie?
Living from day to day
If it's something we can't buy
There must be another way
We are spirits in the material world
Spirits in the material world,
Ghost in the Machine, Police, 1981.
terça-feira, novembro 12, 2002
Muppets - Vi um clip nem sei de quem na MTV. Era com os Muppets. Morri de saudades. Vale uma visita na página deles para espiar. Acho que eu tinha uns 5 anos quando eu via os Muppets na TV. Nesta página tem uma descrição de cada um dos personagens. É um barato.
Alguém sabe me informar se ainda existe programa dos Muppets (na TV paga é claro)? Eu seria capaz de assinar só pra ver os Muppets novamente!
segunda-feira, novembro 11, 2002
domingo, novembro 10, 2002
***********************************
Vens e tomas meu corpo
minha pele, minha alma,
exproprias meus sonhos
me bates na cara,
me fazes louca, pouca,
santa, besta, tonta
devastas minhas aldeias,
derrubas minhas muralhas,
caçoas de meus exércitos,
incendeias minhas casas,
me fazes bela, fera,
donzela, megera, cadela
me cospes no rosto,
me trazes desgostos,
me lanhas o dorso,
me tiras os méritos,
me vestes mortalhas
me fazes alada, rasgada,
amada, amarga, molhada
E tudo o que quero
é que voltes, logo.
(Esse é meu mesmo, não vou ter problemas com direito autoral desta vez.)
Vens e tomas meu corpo
minha pele, minha alma,
exproprias meus sonhos
me bates na cara,
me fazes louca, pouca,
santa, besta, tonta
devastas minhas aldeias,
derrubas minhas muralhas,
caçoas de meus exércitos,
incendeias minhas casas,
me fazes bela, fera,
donzela, megera, cadela
me cospes no rosto,
me trazes desgostos,
me lanhas o dorso,
me tiras os méritos,
me vestes mortalhas
me fazes alada, rasgada,
amada, amarga, molhada
E tudo o que quero
é que voltes, logo.
(Esse é meu mesmo, não vou ter problemas com direito autoral desta vez.)
sexta-feira, novembro 08, 2002
Roubei da do Blog da Angie.
Bichos - quando eu era pequena, tive muitos bichos. Entre eles: rato branco (antes dos hamsters a gente tinha ratos brancos), tartaruga, porquinho da índia, coelho, codorna, galinha, cachorro (evidentemente), periquito, pato, etc. Nunca tinha tido gato. Aliás, depois de saber o que é ter um bicho de estimação, nunca mais tinha tido bicho algum. Nunca tinha tido a oportunidade de ter um bicho que reconhecesse em mim o seu dono, ou seu ser humano mais querido, já que gatos não têm donos, eles tem seres humanos de estimação.
Depois de me separ e ir morar sozinha pela primeira vez na vida (aos 29 anos - acho isso meio ridículo), comecei a me sentir solitária (não o substantivo, o adjetivo). Comentei, então, com uma colega de trabalho, a Bel, que estava pensando em adotar um gato ou um cachorro. Bebel imediatamente me disse que sabia de gatinhos à disposição, uma vez que a veterinária tinha sido chamada para sacrificá-los ao nascer (a dona da gata não tinha para quem doar) e, como não faria tal coisa, recolheu os bichinhos e ligou pra ela.
Eu confesso que, ao comentar com a Bel a minha vontade, não estava pedindo um bicho, mas uma opinião. Bebel, maníaca por bichos, em especial por gatos (ela tem dois: Judith e Emiliano), não titubeou em me convencer de levar a gatinha lá pra casa e fazer um test drive.
Hilda chegou lá em casa em abril e a minha vida nunca mais foi a mesma. Ela nunca me deixa sozinha, nem por segundos. Se eu estou no banho, ela fica do lado de fora do box do banheiro, observando. Se eu abro a porta, ela chega a entrar para ver se agüenta o incômodo da água, só pra ficar mais perto de mim. É quase impossível me sentir só - a exceção são as vezes em que eu compro um saco de bolachas maria e escuto Nina Simone. Mesmo assim, Hilda fica de butuca e se percebe uma tentativa mais enfática de cortar os pulsos, me olha com cara de "você não me deixaria sozinha, não é mesmo?" Hilda, ou Hildolina, ou ainda Dodô, sempre arruma uma maneira de me fazer companhia.
quinta-feira, novembro 07, 2002
Poesia na Feira- Amanhã, sexta, às 19h, Paula Taitelbaum autografa Mundo da Lua. Imperdível. Os poemas são belíssimos.
Vem feito cacho de uva feito pingo de chuva tocar minha vulva
Traz os teus bagos e gotas me engole num gole glutão que tu és
Vem num tumulto insulto por debaixo dos panos te quero insano
Mostra na gangorra da noite o que é ter açoite e me faz tua súdita
Vem pelas frestas do tempo tempestade no centro vou perder-me no antro
Quero o que sempre venero a saliência e o sândalo
No meu corpo um vândalo
(Paula Taitelbaum - trecho de poema do Mundo da Lua, publicado na coluna de hoje do David Coimbra, na ZH)
Convite: Mikhail, que tal um café e depois sessão de autógrafos da Paula?
Traz os teus bagos e gotas me engole num gole glutão que tu és
Vem num tumulto insulto por debaixo dos panos te quero insano
Mostra na gangorra da noite o que é ter açoite e me faz tua súdita
Vem pelas frestas do tempo tempestade no centro vou perder-me no antro
Quero o que sempre venero a saliência e o sândalo
No meu corpo um vândalo
(Paula Taitelbaum - trecho de poema do Mundo da Lua, publicado na coluna de hoje do David Coimbra, na ZH)
Convite: Mikhail, que tal um café e depois sessão de autógrafos da Paula?
quarta-feira, novembro 06, 2002
Ele(a) não é feio(a), você é que bebeu pouco - Ingerir álcool faz você achar as outras pessoas mais atraentes. A descoberta foi feita por um psicólogo da Universidade de Glasgow, na Escócia, em um estudo com 120 pessoas. Segundo o pesquisador, 1 litro de cerveja ou quatro copos de vinho aumentam o sex appeal das outras pessoas em cerca de 25%.
Taí, o negócio é encher a cara e baixar a exigência. MAS E O DIA SEGUINTE?!
Taí, o negócio é encher a cara e baixar a exigência. MAS E O DIA SEGUINTE?!
segunda-feira, novembro 04, 2002
PSN- Na esteira da proposta do Mikhail de fundar o Partido Único dos Trabalhadores Anarquistas (sigla por sua conta e risco), eu proponho que a gente funde, oficialmente, o PSN (Partido dos Sem Noção), que já havia sugerido pela turma do Casseta e Planeta. Contudo, e como não poderia deixar de ser, a minha idéia tem inovações. Tratar-se-á (aimeudeus, uma mesóclise - fim do chilique) não de um partido convencional, em que as pessoas se identificam com as idéias e se filiam, ou que querem cargos e aderem, ou que querem se canditar e passam para aquele que tem vaga, mas um partido de filiação compulsória e eleição prévia. Explico: nós (pessoas inteligentes e COM noção) escolheremos os sem noção via voto direto e público. Uma vez eleito, a criatura sem noção (doravante chamado CSN) é compulsoriamente filiado ao PSN, recebe um diplona de CSN e passa a gozar de alguns incômodos, como por exemplo: não poder ir a Feira do Livro e ficar ocupando o balcão/ouvido do vendedor ou a bandeja de saldos por mais de 10 segundos, não poder ir à estréia de filme legal (principalmente os do Almodóvar), ser obrigado a ir à estréia de filmes da Xuxa, ter compulsoriamente que calar a boca quando os outros mandam, ter que parar de ligar convidando pra sair depois de ter recebido duas desculpas furadas (o brabo vais ser a CSN entender o que são desculpas furadas), não opinar sobre poesia ou política, ser proibido, terminantemente, de ligar para a casa dos outros antes das 9 ou depois das 22, etc. Aceitamos sugestões de incômodos a serem impostos às CSN.
Não é uma boa idéia?
Não é uma boa idéia?
sábado, novembro 02, 2002
Red Dragon - Assisti ontem à estréia de Red Dragon. O filme é muito bom. Pior que Silêncio dos Inocentes e melhor que Hannibal. Mas o mais interessante é que fui SOZINHA na sessão das 22:10 no Guion. Estava tudo deserto, pouca gente no cinema. Quando cheguei, fiquei bizolhando os CD's (todos ótchimos e caríssimos) e um senhor dos seus cinqüenta e picos puxou conversa sobre um Cd. Depois, já sentados no cinema, ele disse que eu era corajosa de ir assistir a um filme daqueles, a uma hora daquelas, sozinha. Pois é, eu disse, sempre adorei filmes e histórias de psicopatas. Sabe o que ele disse? "Eu também, sou psiquiatra e trabalhei muitos anos no Instituto Psiquiátrico Forense." É mol?!
Decidi ler o livro. Vou comprá-lo na Feira. Faltou maiores explicações a respeito dos crimes cometidos pelo Mr.D. Poucos detalhes.
Decidi ler o livro. Vou comprá-lo na Feira. Faltou maiores explicações a respeito dos crimes cometidos pelo Mr.D. Poucos detalhes.
sexta-feira, novembro 01, 2002
Árias Pequenas para Bandolim
Se é morte este amor
Porque se faz sozinho
Este meu canto?
Antes diria sorte
Poder cantar morrendo
A minha morte.
Se te vou esperar
Como é certo que ao fruto
Antecede a árvore?
Certo como a terra
Antecede a árvore
E à árvore antecede
A semente na terra
Me hás de vir buscar.
(Hilda Hilst, Júbilo, Memória e Noviciado da Paixão, Ed. Globo, 2001)
Destas certezas se vive e também se vai morrendo aos poucos. Com elas a vida se veste de céu e nos deitamos entre as estrelas e também com elas beijamos a areia árida pensando beber a água da miragem.
Mas o que é viver senão acreditar naquilo que um dia alguém vai provar que nunca existiu?
Se é morte este amor
Porque se faz sozinho
Este meu canto?
Antes diria sorte
Poder cantar morrendo
A minha morte.
Se te vou esperar
Como é certo que ao fruto
Antecede a árvore?
Certo como a terra
Antecede a árvore
E à árvore antecede
A semente na terra
Me hás de vir buscar.
(Hilda Hilst, Júbilo, Memória e Noviciado da Paixão, Ed. Globo, 2001)
Destas certezas se vive e também se vai morrendo aos poucos. Com elas a vida se veste de céu e nos deitamos entre as estrelas e também com elas beijamos a areia árida pensando beber a água da miragem.
Mas o que é viver senão acreditar naquilo que um dia alguém vai provar que nunca existiu?
quinta-feira, outubro 31, 2002
Esses somos eu e meu amigo existencialista depressivo conversando. Eu o adoro, mas ele tem essa mania de insignificância.
Esta tirinha foi retirada do site do LFV, que é muito legal.
Ele voltou! - Sim, crianças, é verdade. Dr. Hannibal Lecter is back. Amanhã estréia Red Dragon e Ticinha estará lá, para conferir seu psicopata favorito.
quarta-feira, outubro 30, 2002

Luis Inácio - Lula é o quarto presidente que eu vejo chegar ao planalto desde que tenho condições de entender e avaliar o que está acontecendo. Passei pelo Collor e duas vezes pelo FFHH.
Quando o Collor assumiu, com aquele jeitão de super herói cucaracha, dizendo que iria dar um tiro na testa do tigre da inflação (só tinha uma bala, etc.) e acabar com os marajás, eu, aos 16 anos, achava que já sabia no que iria dar. Fui surpreendida pelo ponto a que chegou uma população que eu julgava acomodada demais para tomar uma atitude. Eu cursava Letras e fui pra rua de cara pintada. Lembro de um professor querido, pelos corredores aos pulos e de braços erguidos, gritando "Pegaram o chefe da quadrilha! Pegaram o chefe da quadrilha!"
FFHH 1 - o sociólogo, assumiu o governo prometendo cinco coisas (lembra da mãozinha aberta?) e FFHH 2 - o capacho, prometendo criar 8 milhões de empregos.
Lula falou de fome, de miséria e de dignidade. Quando o ouvi dizer que, se ao final de seu governo, todos os brasileiros estivessem fazendo três refeições ao dia, a missão de sua vida estaria cumprida, pensei no quantas pessoas poderiam não ter morrido de fome nestes 13 anos, se ele tivesse sido eleito em 89. Se durante esses anos não tivéssemos servido crianças mortas de desnutrição e famílias inteiras alimentadas de lixo em bandejas de prata a banqueiros, especuladores e corruptos. Se não tivéssemos tanta vergonha de nós mesmos e de nossos pares, se não julgássemos incapazes aqueles que vêm das mesmas origens, se não temêssemos tomar as rédeas dos nossos próprios destinos e entregá-las a um de nós, pobre, feio, com pouca instrução, que fala errado mas sabe que fome dói, que miséria humilha, e que o que importa é ter dignidade, princípios e lutar pelo que se acredita.
Deus te abençoe, Luis Inácio. Teu sonho é o nosso sonho.
terça-feira, outubro 29, 2002
Para Viver Um Grande Amor
Vinicius de Moraes
Para viver um grande amor, preciso é muita concentração e muito siso, muita seriedade e pouco riso — para viver um grande amor.
Para viver um grande amor, mister é ser um homem de uma só mulher; pois ser de muitas, poxa! é de colher... — não tem nenhum valor.
Para viver um grande amor, primeiro é preciso sagrar-se cavalheiro e ser de sua dama por inteiro — seja lá como for. Há que fazer do corpo uma morada onde clausure-se a mulher amada e postar-se de fora com uma espada — para viver um grande amor.
Para viver um grande amor, vos digo, é preciso atenção como o "velho amigo", que porque é só vos quer sempre consigo para iludir o grande amor. É preciso muitíssimo cuidado com quem quer que não esteja apaixonado, pois quem não está, está sempre preparado pra chatear o grande amor.
Para viver um amor, na realidade, há que compenetrar-se da verdade de que não existe amor sem fidelidade — para viver um grande amor. Pois quem trai seu amor por vanidade é um desconhecedor da liberdade, dessa imensa, indizível liberdade que traz um só amor.
Para viver um grande amor, il faut além de fiel, ser bem conhecedor de arte culinária e de judô — para viver um grande amor.
Para viver um grande amor perfeito, não basta ser apenas bom sujeito; é preciso também ter muito peito — peito de remador. É preciso olhar sempre a bem-amada como a sua primeira namorada e sua viúva também, amortalhada no seu finado amor.
É muito necessário ter em vista um crédito de rosas no florista — muito mais, muito mais que na modista! — para aprazer ao grande amor. Pois do que o grande amor quer saber mesmo, é de amor, é de amor, de amor a esmo; depois, um tutuzinho com torresmo conta ponto a favor...
Conta ponto saber fazer coisinhas: ovos mexidos, camarões, sopinhas, molhos, strogonoffs — comidinhas para depois do amor. E o que há de melhor que ir pra cozinha e preparar com amor uma galinha com uma rica e gostosa farofinha, para o seu grande amor?
Para viver um grande amor é muito, muito importante viver sempre junto e até ser, se possível, um só defunto — pra não morrer de dor. É preciso um cuidado permanente não só com o corpo mas também com a mente, pois qualquer "baixo" seu, a amada sente — e esfria um pouco o amor. Há que ser bem cortês sem cortesia; doce e conciliador sem covardia; saber ganhar dinheiro com poesia — para viver um grande amor.
É preciso saber tomar uísque (com o mau bebedor nunca se arrisque!) e ser impermeável ao diz-que-diz-que — que não quer nada com o amor.
Mas tudo isso não adianta nada, se nesta selva oscura e desvairada não se souber achar a bem-amada — para viver um grande amor.
Texto extraído do livro "Para Viver Um Grande Amor", José Olympio Editora - Rio de Janeiro, 1984, pág. 130.
O grande amor - Aos 18 anos, eu assistia filmes e lia livros sobre grandes paixões e amores incomensuráveis e ficava tranqüila. Afinal, não precisava me angustiar, nada do que eu tinha vivido poderia ter sido o grande amor da minha vida, já que, pela lógica, o GA (grande amor) deveria chegar mais adiante, quando eu já tivesse os meus trinta, trinta e poucos anos, ou seja, depois de eu ter me tornado uma mulher com m maiúsculo: independente, segura de si, experiente, ciente das minhas possibilidades e limitações, depois de saber distinguir impressionistas de simbolistas, depois de ter lido Sartre, depois que meus poemas virassem poemas de verdade, depois de ter ido à Europa, depois de aprender a beber vinho, depois de saber cozinhar, depois de ter comprado todos os discos que eu queria, depois de aprender francês, depois de ter coragem de fazer o que me desse na cabeça (de sexo a profissão).
Durante um tempo, eu achei que tinha encontrado o GA. Depois, eu comecei a pensar que os trinta, trinta e poucos vinham chegando, que alguma daquelas coisas eu já tinha conquistado, outras não. Não era ele. Conheci pessoas e a lista de coisas que eu deveria ter acumulado antes de encontrar o GA ficou completa.
Agora a dúvida é cruel: se já encontrei o GA e não ficamos juntos, deveria dizer: “Peraí, você é o GA, volte aqui já e cumpra sua missão na terra!” Mas e se ele não voltar, e eu continuar vivendo, amando outras pessoas, vivendo outra vida, deixando os meses e os anos passarem até um dia olhar no espelho e concluir: “Era ele. O que foi que nós fizemos?!” Se não o encontrei ainda, será que existe?
Vinicius de Moraes
Para viver um grande amor, preciso é muita concentração e muito siso, muita seriedade e pouco riso — para viver um grande amor.
Para viver um grande amor, mister é ser um homem de uma só mulher; pois ser de muitas, poxa! é de colher... — não tem nenhum valor.
Para viver um grande amor, primeiro é preciso sagrar-se cavalheiro e ser de sua dama por inteiro — seja lá como for. Há que fazer do corpo uma morada onde clausure-se a mulher amada e postar-se de fora com uma espada — para viver um grande amor.
Para viver um grande amor, vos digo, é preciso atenção como o "velho amigo", que porque é só vos quer sempre consigo para iludir o grande amor. É preciso muitíssimo cuidado com quem quer que não esteja apaixonado, pois quem não está, está sempre preparado pra chatear o grande amor.
Para viver um amor, na realidade, há que compenetrar-se da verdade de que não existe amor sem fidelidade — para viver um grande amor. Pois quem trai seu amor por vanidade é um desconhecedor da liberdade, dessa imensa, indizível liberdade que traz um só amor.
Para viver um grande amor, il faut além de fiel, ser bem conhecedor de arte culinária e de judô — para viver um grande amor.
Para viver um grande amor perfeito, não basta ser apenas bom sujeito; é preciso também ter muito peito — peito de remador. É preciso olhar sempre a bem-amada como a sua primeira namorada e sua viúva também, amortalhada no seu finado amor.
É muito necessário ter em vista um crédito de rosas no florista — muito mais, muito mais que na modista! — para aprazer ao grande amor. Pois do que o grande amor quer saber mesmo, é de amor, é de amor, de amor a esmo; depois, um tutuzinho com torresmo conta ponto a favor...
Conta ponto saber fazer coisinhas: ovos mexidos, camarões, sopinhas, molhos, strogonoffs — comidinhas para depois do amor. E o que há de melhor que ir pra cozinha e preparar com amor uma galinha com uma rica e gostosa farofinha, para o seu grande amor?
Para viver um grande amor é muito, muito importante viver sempre junto e até ser, se possível, um só defunto — pra não morrer de dor. É preciso um cuidado permanente não só com o corpo mas também com a mente, pois qualquer "baixo" seu, a amada sente — e esfria um pouco o amor. Há que ser bem cortês sem cortesia; doce e conciliador sem covardia; saber ganhar dinheiro com poesia — para viver um grande amor.
É preciso saber tomar uísque (com o mau bebedor nunca se arrisque!) e ser impermeável ao diz-que-diz-que — que não quer nada com o amor.
Mas tudo isso não adianta nada, se nesta selva oscura e desvairada não se souber achar a bem-amada — para viver um grande amor.
Texto extraído do livro "Para Viver Um Grande Amor", José Olympio Editora - Rio de Janeiro, 1984, pág. 130.
O grande amor - Aos 18 anos, eu assistia filmes e lia livros sobre grandes paixões e amores incomensuráveis e ficava tranqüila. Afinal, não precisava me angustiar, nada do que eu tinha vivido poderia ter sido o grande amor da minha vida, já que, pela lógica, o GA (grande amor) deveria chegar mais adiante, quando eu já tivesse os meus trinta, trinta e poucos anos, ou seja, depois de eu ter me tornado uma mulher com m maiúsculo: independente, segura de si, experiente, ciente das minhas possibilidades e limitações, depois de saber distinguir impressionistas de simbolistas, depois de ter lido Sartre, depois que meus poemas virassem poemas de verdade, depois de ter ido à Europa, depois de aprender a beber vinho, depois de saber cozinhar, depois de ter comprado todos os discos que eu queria, depois de aprender francês, depois de ter coragem de fazer o que me desse na cabeça (de sexo a profissão).
Durante um tempo, eu achei que tinha encontrado o GA. Depois, eu comecei a pensar que os trinta, trinta e poucos vinham chegando, que alguma daquelas coisas eu já tinha conquistado, outras não. Não era ele. Conheci pessoas e a lista de coisas que eu deveria ter acumulado antes de encontrar o GA ficou completa.
Agora a dúvida é cruel: se já encontrei o GA e não ficamos juntos, deveria dizer: “Peraí, você é o GA, volte aqui já e cumpra sua missão na terra!” Mas e se ele não voltar, e eu continuar vivendo, amando outras pessoas, vivendo outra vida, deixando os meses e os anos passarem até um dia olhar no espelho e concluir: “Era ele. O que foi que nós fizemos?!” Se não o encontrei ainda, será que existe?
segunda-feira, outubro 28, 2002
Prelúdios-Intensos para os desmemoriados do amor
Que boca há de roer o tempo? Que rosto
Há de chegar depois do meu? Quantas vezes
O tule do meu sopro há de pousar
Sobre a brancura fremente do teu dorso?
Atravessaremos juntos as grandes espirais
A artéria estendida do silêncio, o vão
O patamar do tempo?
Quantas vezes dirás: vida, vésper, magna-marinha
E quantas vezes direi: és meu. E as distendidas
Tardes, as largas luas, as madrugadas agônicas
Sem poder tocar-te. Quantas vezes, amor
Uma nova vertente há de nascer em ti
E quantas vezes em mim há de morrer.
(Hilda Hilst, Júbilo, Memória e Noviciado da Paixão, Globo, 2001)
Que boca há de roer o tempo? Que rosto
Há de chegar depois do meu? Quantas vezes
O tule do meu sopro há de pousar
Sobre a brancura fremente do teu dorso?
Atravessaremos juntos as grandes espirais
A artéria estendida do silêncio, o vão
O patamar do tempo?
Quantas vezes dirás: vida, vésper, magna-marinha
E quantas vezes direi: és meu. E as distendidas
Tardes, as largas luas, as madrugadas agônicas
Sem poder tocar-te. Quantas vezes, amor
Uma nova vertente há de nascer em ti
E quantas vezes em mim há de morrer.
(Hilda Hilst, Júbilo, Memória e Noviciado da Paixão, Globo, 2001)
Bálsamo para os ouvidos - CQC, meu tutor para fins musicais e outras cositas que não vem ao caso, indicou Norah Jones. A moça é filha do Ravi Shankar. Comprei o CD na sexta e ouvi 235.567.733 vezes durante o fim de semana. Continuo ouvindo agora. Ouçam, comprem, peçam emprestado (não pra mim, pelo menos nos próximos meses), roubem, mas não deixem de conhecer.
Angie, para teres noção, ela tem a voz parecida com a vocalista do Fairground. Believe me.
O CD é jazz, mas tem um toque de folk, talvez uma pitada de country, mas tudo muito sutil. Predomina o duo voz-piano, que é de morrer.
A criatura é pianista, tem uma voz divina e, além de tudo, é linda. Ô mundo injusto!
Angie, para teres noção, ela tem a voz parecida com a vocalista do Fairground. Believe me.
O CD é jazz, mas tem um toque de folk, talvez uma pitada de country, mas tudo muito sutil. Predomina o duo voz-piano, que é de morrer.
A criatura é pianista, tem uma voz divina e, além de tudo, é linda. Ô mundo injusto!
sexta-feira, outubro 25, 2002
Limpador de pára-brisa para óculos: Eu e Laupinha resolvemos patentear os óculos com limpador de pára-brisa. Sim, eu sei que já tiveram esta idéia antes, mas eu e ela bolamos o limpador com três velocidades (atentar para os efeitos sonoros):
1) chuvisco:
wi - cki... ... ... wi - cki... ... ... wi - cki... ... ... wi - cki...
2) chuva:
wick... wick... wick... wick
3) temporal:
wick,wick,wick,wick,wick
Muito bem, confessem, é a coisa mais ridícula que já leram em um blog ou não é?
1) chuvisco:
wi - cki... ... ... wi - cki... ... ... wi - cki... ... ... wi - cki...
2) chuva:
wick... wick... wick... wick
3) temporal:
wick,wick,wick,wick,wick
Muito bem, confessem, é a coisa mais ridícula que já leram em um blog ou não é?
quinta-feira, outubro 24, 2002
quarta-feira, outubro 23, 2002
Depois da Guerra vão nascer lírios nas pedras, grandes lírios cor de sangue, belas rosas desmaiadas. Depois da Guerra vai haver fertilidade, vai haver natalidade, vai haver felicidade. Depois da Guerra, ah meu Deus, depois da Guerra, como eu vou tirar a forra de um jejum longo de farra! Depois da Guerra vai-se andar só de automóvel, atulhado de morenas todas vestidas de short. Depois da Guerra, que porção de preconceitos vão se acabar de repente com respeito à castidade! Moças saudáveis serão vistas pelas praias, mamães de futuros gêmeos, futuros gênios da pátria. Depois da Guerra, ninguém bebe mais bebida que não tenha um bocadinho de matéria alcoolizante. A coca-cola será relegada ao olvido, cachaça e cerveja muita, que é bom pra alegrar a vida! Depois da Guerra não se fará mais a barba, gravata só pra museu, pés descalços, braços nus. Depois da Guerra, acabou burocracia, não haverá mais despachos, não se assina mais o ponto. Branco no preto, preto e branco no amarelo, no meio uma fita de ouro gravada com o nome dela. Depois da Guerra ninguém corta mais as unhas, que elas já nascem cortadas para o resto da existência. Depois da Guerra não se vai mais ao dentista, nunca mais motor no nervo, nunca mais dente postiço. Vai haver cálcio, vitamina e extrato hepático correndo nos chafarizes pelas ruas da Cidade. Depois da Guerra não haverá mais Cassinos, não haverá mais Lídices, não haverá mais Guernicas. Depois da Guerra vão voltar os bons tempinhos do carnaval carioca com muito confete, entrudo e briga. Depois da Guerra, pirulim, depois da Guerra, vai surgir um sociólogo de espantar Gilberto Freyre. Vai se estudar cada coisa mais gozada, por exemplo, a relaÇão entre o Cosmos e a mulata. Grandes poetas farão grandes epopéias, que deixarão no chinelo Camões, Dante e Itararé. Depois da Guerra, meu amigo Graciliano pode tirar os chinelos e ir dormir a sua sesta. Os romancistas viverão só de estipêndios, trabalhando sossegados numa casa na montanha. Depois da Guerra vai-se tirar muito mofo de homens padronizados pra fazer penicilina. Depois da Guerra não haverá mais tristeza: todo o mundo se abraçando num geral desarmamento. Chega francês, bate nas costas do inglês, que convida o italiano para um chope no Alemão. Depois da Guerra, pirulim, depois da Guerra, as mulheres andarão perfeitamente à vontade. Ninguém dirá a expressão "mulher perdida", que serão todas achadas sem mais banca, sem mais briga. Depois da Guerra vão se abrir todas as burras, quem estiver mal de cintura, faz logo um requerimento. Os operários irão ao Bife de Ouro, comerão somente o bife, que ouro não é comestível. Gentes vestindo macacões de fecho zíper dançarão seu jiterburgue em plena Copacabana. Bandas de música voltarão para os coretos, o povo se divertindo no remelexo do samba. E quanto samba, quanta doce melodia, para a alegria da massa comendo cachorro-quente! O poeta Schmidt voltará à poesia, de que anda desencantado e escreverá grandes livros. Quem quiser ver o poeta Carlos criando, ligará a televisão, lá está ele, que homem magro! Manuel Bandeira dará aula em praça pública, sua voz seca soando num bruto de um megafone. Murilo Mendes ganhará um autogiro, trará mensagens de Vênus, ensinando o povo a amar. Aníbal Machado estará são como um perro, numa tal atividade que Einstein rasga seu livro. Lá no planalto os negros nossos irmãos voltarão para os seus clubes de que foram escorraçados por lojistas da Direita (rua). Ah, quem me dera que essa Guerra logo acabe e os homens criem juízo e aprendam a viver a vida. No meio tempo, vamos dando tempo ao tempo, tomando nosso chopinho, trabalhando pra família. Se cada um ficar quieto no seu canto, fazendo as coisas certinho, sem aturar desaforo; se cada um tomar vergonha na cara, for pra guerra, for pra fila com vontade e paciência — não é possível! esse negócio melhora, porque ou muito me engano, ou tudo isso não passa de um grande, de um doloroso, de um atroz mal-entendido!
(Maio de 1944)
Cai bem para esta semana, não acham?
Da série "Trilha Sonora do Filme sobre a Minha Vida", roteiro Nick Hornby: Além da música "Something" (George Harrison), cantada pelo Joe Cocker, é imprescindível alguma música do Henri Salvador. Pode ser "Il fait dimanche". Vai cair muito bem naquela parte do tórrido romance em Paris. Não, pessoal, eu AINDA não vivi nenhuma paixão em Paris. AINDA, ressalte-se. Mas uma bossa nova em francês vai ficar ótima.
"A chaque fois que tu souris, c'est la revanche de l'amour sur le temps qui passe sans bruit"
"A chaque fois que tu souris, c'est la revanche de l'amour sur le temps qui passe sans bruit"
terça-feira, outubro 22, 2002
Coisa mais querida - Paula Taitelbaum me mandou um e-mail para agradecer pela divulgação do lançamento do novo livro, Mundo da Lua. Imagina, era até uma obrigação depois de ter usados os poemas dela no blog (lindos, lindos, lindos).
Vai mais uma dica: pra quem perdeu o lançamento na Bamboletras, Paula autografa na Feira do Livro de Porto Alegre, dia 08/11 às 19h. Desta vez, nem a lasanha da Tia Têre me impedirá de comparecer.
Vai mais uma dica: pra quem perdeu o lançamento na Bamboletras, Paula autografa na Feira do Livro de Porto Alegre, dia 08/11 às 19h. Desta vez, nem a lasanha da Tia Têre me impedirá de comparecer.
Mais uma vez, a minha querida idolatrada salve, salve Angie, presta um serviço relevante a este blog, ensinando à sua titubeante administradora a inserir imagens. É graças a ela que teremos um blog mais...digamos... ilustrado. Beijo Angie.
segunda-feira, outubro 21, 2002
FEIRA DE FRANKFURT, FOLHA DE SÃO PAULO, 15.10.2002, CASSIANO ELEK MACHADO, ENVIADO ESPECIAL A FRANKFURT
Autora de "No Logo", canadense elogia democracia participativa do partido em congresso alemão.
PT é inspiração para o mundo, diz Klein
Lá estavam diversos pesos-pesados da intelectualidade mundial: o escritor israelense Amos Oz, o "enfant terrible" do maio de 68 francês Daniel Cohn-Bendit, o influente crítico indiano Homi K. Bhabha e o provocante filósofo esloveno Slavoj Zizek.
Mas não foi nenhum desses consagrados cinquentões e sessentões o grande destaque da primeira edição do Futura Mundi, um novo congresso de debates globais organizado pela Feira do Livro de Frankfurt.
O evento foi de Naomi Klein, jornalista e escritora canadense de 1,65m, 32 anos e feições de personagem de sitcom americana.
Autora do aclamado "No Logo", livro lançado em 2000 e lastreado em uma crítica severa às desigualdades provocadas pela sociedade de consumo, Klein teve as intervenções mais aplaudidas pelas 800 pessoas que passaram por três camadas de detectores de metais e outras camadas de seguranças brutamontes e lotaram a maior sala do gigante complexo da feira frankfurtiana para assistir ao fórum.
Um dos eixos do discurso da canadense foi justamente o nosso Partido dos Trabalhadores e seu "incrivelmente inspirador modelo de orçamentos participativos".
Klein ganhou a platéia logo no início de sua fala. Antes dela, Cohn-Bendit havia feito uma apologia do fortalecimento de uma grande Europa, que deveria se contrapor aos dominantes Estados Unidos da América.
"Todos os sonhos do mundo não podem ser feitos em Hollywood", disse de modo inflamado.
E veio a canadense em seguida dar uma invertida em "Daniel, o Vermelho", como é conhecido o ativista político francês. "Isso que Cohn-Bendit defendeu é uma grande e injusta ilusão que estão tentando empurrar garganta abaixo dos europeus. A Europa não é nem será inimiga dos EUA, ela é sócia do império."
Se o tema do congresso era "Pontes para um Mundo Dividido" -inspirado em frase de Abraham Lincoln-, a autora de "No Logo" propôs que essas ligações fossem feitas "em movimentos sociais de países sem poder".
Palmas
Acabada a conferência, recolhidas as palmas, Klein foi a única conferencista com 360º de jornalistas a seu redor. Um pedia uma entrevista, outro contestava uma de suas idéias e assim por diante. A Folha entrou no bolo e solicitou que ela respondesse apenas uma pergunta, sobre o Brasil.
"Ah, temos aqui um jornalista brasileiro. Colegas, sinto muito, mas tenho só dez minutos antes do meu próximo compromisso e vou dá-los ao Brasil", disse Klein.
A pergunta era: Tariq Ali, escritor paquistanês, defendeu também no congresso a política brasileira de quebra de patentes para fazer remédios baratos contra a Aids (atuação do candidato José Serra) e exaltou ainda a provável vitória de Lula ("parte de um pacote de grandes mudanças democráticas na América Latina, que inclui o Peru, o crescimento dos cocaleiros na Bolívia..."). Você usou as experiências de orçamentos participativos no Rio Grande do Sul como um modelo inspirador. Por que o Brasil está tão presente neste fórum mundial?
A jornalista diz que "o que existe na maior parte do mundo é uma fotocópia de uma fotocópia de uma fotocópia de democracia". "O Partido dos Trabalhadores brasileiro é hoje a principal fonte de inspiração para forças sociais de todo o mundo para a construção de um novo modelo de democracia, baseado na participação constante do povo."
Klein, que esteve no Brasil no início do ano para o Fórum Social Mundial, acha que a única coisa que reforçaria para Lula é que nem ao menos pensasse no modelo de Hugo Chávez. "O PT deve esquecer completamente a Venezuela. Tem de buscar legitimidade é na participação popular."
E o partido terá como fazer isso em escala nacional? "Não será fácil", diz a autora do chamado ""O Capital" da geração Seattle". "O FMI ter oferecido o empréstimo de US$ 30 bilhões quando e como fez, pós-datando a maior parte do cheque e condicionando o empréstimo a uma continuidade econômica, é colocar grades na democracia", afirma a escritora, que deve lançar no final do mês, nos EUA, seu segundo livro, "Grades e Janelas".
"O que é importante que Lula saiba é que uma grande camada da intelectualidade mundial estará acompanhado com carinho o seu trabalho", disse Klein, já cercada por seguranças "4x4" que "escoltaram" a jornalista para fora da sala.
"Se vai dar certo ou não só poderemos saber na altura da Feira de Frankfurt do ano que vem", concluiu Klein.
Autora de "No Logo", canadense elogia democracia participativa do partido em congresso alemão.
PT é inspiração para o mundo, diz Klein
Lá estavam diversos pesos-pesados da intelectualidade mundial: o escritor israelense Amos Oz, o "enfant terrible" do maio de 68 francês Daniel Cohn-Bendit, o influente crítico indiano Homi K. Bhabha e o provocante filósofo esloveno Slavoj Zizek.
Mas não foi nenhum desses consagrados cinquentões e sessentões o grande destaque da primeira edição do Futura Mundi, um novo congresso de debates globais organizado pela Feira do Livro de Frankfurt.
O evento foi de Naomi Klein, jornalista e escritora canadense de 1,65m, 32 anos e feições de personagem de sitcom americana.
Autora do aclamado "No Logo", livro lançado em 2000 e lastreado em uma crítica severa às desigualdades provocadas pela sociedade de consumo, Klein teve as intervenções mais aplaudidas pelas 800 pessoas que passaram por três camadas de detectores de metais e outras camadas de seguranças brutamontes e lotaram a maior sala do gigante complexo da feira frankfurtiana para assistir ao fórum.
Um dos eixos do discurso da canadense foi justamente o nosso Partido dos Trabalhadores e seu "incrivelmente inspirador modelo de orçamentos participativos".
Klein ganhou a platéia logo no início de sua fala. Antes dela, Cohn-Bendit havia feito uma apologia do fortalecimento de uma grande Europa, que deveria se contrapor aos dominantes Estados Unidos da América.
"Todos os sonhos do mundo não podem ser feitos em Hollywood", disse de modo inflamado.
E veio a canadense em seguida dar uma invertida em "Daniel, o Vermelho", como é conhecido o ativista político francês. "Isso que Cohn-Bendit defendeu é uma grande e injusta ilusão que estão tentando empurrar garganta abaixo dos europeus. A Europa não é nem será inimiga dos EUA, ela é sócia do império."
Se o tema do congresso era "Pontes para um Mundo Dividido" -inspirado em frase de Abraham Lincoln-, a autora de "No Logo" propôs que essas ligações fossem feitas "em movimentos sociais de países sem poder".
Palmas
Acabada a conferência, recolhidas as palmas, Klein foi a única conferencista com 360º de jornalistas a seu redor. Um pedia uma entrevista, outro contestava uma de suas idéias e assim por diante. A Folha entrou no bolo e solicitou que ela respondesse apenas uma pergunta, sobre o Brasil.
"Ah, temos aqui um jornalista brasileiro. Colegas, sinto muito, mas tenho só dez minutos antes do meu próximo compromisso e vou dá-los ao Brasil", disse Klein.
A pergunta era: Tariq Ali, escritor paquistanês, defendeu também no congresso a política brasileira de quebra de patentes para fazer remédios baratos contra a Aids (atuação do candidato José Serra) e exaltou ainda a provável vitória de Lula ("parte de um pacote de grandes mudanças democráticas na América Latina, que inclui o Peru, o crescimento dos cocaleiros na Bolívia..."). Você usou as experiências de orçamentos participativos no Rio Grande do Sul como um modelo inspirador. Por que o Brasil está tão presente neste fórum mundial?
A jornalista diz que "o que existe na maior parte do mundo é uma fotocópia de uma fotocópia de uma fotocópia de democracia". "O Partido dos Trabalhadores brasileiro é hoje a principal fonte de inspiração para forças sociais de todo o mundo para a construção de um novo modelo de democracia, baseado na participação constante do povo."
Klein, que esteve no Brasil no início do ano para o Fórum Social Mundial, acha que a única coisa que reforçaria para Lula é que nem ao menos pensasse no modelo de Hugo Chávez. "O PT deve esquecer completamente a Venezuela. Tem de buscar legitimidade é na participação popular."
E o partido terá como fazer isso em escala nacional? "Não será fácil", diz a autora do chamado ""O Capital" da geração Seattle". "O FMI ter oferecido o empréstimo de US$ 30 bilhões quando e como fez, pós-datando a maior parte do cheque e condicionando o empréstimo a uma continuidade econômica, é colocar grades na democracia", afirma a escritora, que deve lançar no final do mês, nos EUA, seu segundo livro, "Grades e Janelas".
"O que é importante que Lula saiba é que uma grande camada da intelectualidade mundial estará acompanhado com carinho o seu trabalho", disse Klein, já cercada por seguranças "4x4" que "escoltaram" a jornalista para fora da sala.
"Se vai dar certo ou não só poderemos saber na altura da Feira de Frankfurt do ano que vem", concluiu Klein.
domingo, outubro 20, 2002
Domingo em Porto Alegre - Amanheceu um dia bonitinho, com sol e super quente. Várias pessoas pelas ruas portando suas respectivas bandeiras. Este fim de semana tinha mais PT nas ruas que fim de semana passado. Deve ter sido o efeito comício, de sexta, que estava um ESPETÁCULO. O discurso do Lula foi de arrepiar, mas lindo mesmo foi o fim do comício, onde hordas de pessoas deslocavam-se pelas ruas, indo embora cantando, abraçadas. É o que eu chamo de espírito natalino do dia de comício. Peguei a onda que foi pela José do Patrocínio e entrou na República. Pena que o RS não é só a Cidade Baixa - estaríamos reeleitos com 98% dos votos. (Esclarecimento aos não-Porto-alegrenses: a Cidade Baixa é o Quartier Latin de Porto Alegre). Depois, o domingo enferruscou e choveu. Tá até friozinho. Vai dar para ir pegar um cineminha no Guion, com direito a café e passadinha na Bamboletras. Eu amo a Cidade Baixa. Pra combinar, estou ouvindo Telhados de Paris, com o Nei Lisboa.
Mais Hilda Hilst
De tanto te pensar, Sem Nome, me veio a ilusão.
A mesma ilusão
Da égua que sorve a água pensando sorver a lua.
De te pensar me deito nas aguadas
E acredito luzir e estar atada
Ao fulgor do costado de um negro cavalo de cem luas.
De te sonhar, Sem Nome, tenho nada
Mas acredito em mim o ouro e o mundo.
De te amar, possuída de ossos e de abismos
Acredito ter carne e vadiar
Ao redor dos teus cimos.
De nunca te tocar
Tocando os outros
Acredito ter mãos, acredito ter boca
Quando só tenho pata e focinho.
Do muito desejar altura e eternidade
Me vem a fantasia de que Existo e Sou.
Quando sou nada: égua fantasmagórica
Sorvendo a lua n'água.
O absurdo desta mulher é a capacidade que ela tem de se enxergar sem auto-comiseração. Alguém que se enxerga com patas e focinho é alguém digna de reverência. Isso é muito mais que auto-crítica.
Shit happens - Perdi a sessão de autógrafos da Paula Taitelbaum na Bamboletras - a Grazi ficou me segurando amordaçada na casa dela e me chantageando com as comidas da tia Têre. Não há de for nada. Amanhã a Bamboletras abre e eu pego autógrafo na Feira do Livro. Duvido que não vá ter.
A mesma ilusão
Da égua que sorve a água pensando sorver a lua.
De te pensar me deito nas aguadas
E acredito luzir e estar atada
Ao fulgor do costado de um negro cavalo de cem luas.
De te sonhar, Sem Nome, tenho nada
Mas acredito em mim o ouro e o mundo.
De te amar, possuída de ossos e de abismos
Acredito ter carne e vadiar
Ao redor dos teus cimos.
De nunca te tocar
Tocando os outros
Acredito ter mãos, acredito ter boca
Quando só tenho pata e focinho.
Do muito desejar altura e eternidade
Me vem a fantasia de que Existo e Sou.
Quando sou nada: égua fantasmagórica
Sorvendo a lua n'água.
O absurdo desta mulher é a capacidade que ela tem de se enxergar sem auto-comiseração. Alguém que se enxerga com patas e focinho é alguém digna de reverência. Isso é muito mais que auto-crítica.
Shit happens - Perdi a sessão de autógrafos da Paula Taitelbaum na Bamboletras - a Grazi ficou me segurando amordaçada na casa dela e me chantageando com as comidas da tia Têre. Não há de for nada. Amanhã a Bamboletras abre e eu pego autógrafo na Feira do Livro. Duvido que não vá ter.
sexta-feira, outubro 18, 2002
Tem dias que eu queria pegar o mundo pelo colarinho e gritar bem alto, fazendo os cabelinhos dele voarem pra trás, como nos desenhos animados: “- NÃO FODE!”
Num desses dias, cheia da cara sem motivo com tudo e todos, pois afinal a minha vida é, claro, uma bênção se comparada com outras, pois tudo sempre pode ser infinita e cruelmente pior, como catolicamente sempre fomos ensinados a pensar, saí mais cedo da gaiola-escritório, peguei a linha 255 na Uruguai e desci no Gasômetro.
Assim que pus os pés na calçada, tirei os sapatos e senti o concreto áspero sob a pele fina do animal doméstico, criado em regime de confinamento. Senti a dor das pedras e a imemorial desagradável sensação da sujeira, progressivamente aderindo à pele. Sempre tive pesadelos em que e andava descalça e o desconforto era duplo: a vergonha de andar descalça, onde todos estavam calçados e o nojo por sentir os pés cada vez mais sujos.
Enquanto seguia minha trilha acidentada pela calçada que me levaria à beira do rio, não pensava em mais nada a não ser como evitar as pedras e as sujeiras, os chicletes, as baganas de cigarro, os restos de comida, os cacos de vidro. Mas aí vi que o meu esforço de libertação estava sendo mal conduzido. Se era para me libertar das jaulas do dia-a-dia, fodam-se as pedras e as sujeiras, tinha que agüentar firme e manter o olhar no meu objetivo, o rio. Foi o que eu fiz, não sem receio ou asco, mas fiz. Levei bem menos tempo que se tivesse optado pelo percurso com desvios estratégicos. Cheguei à beira do rio e sentei no chão, ao lado de um banco. Chão úmido, calça suja. Foda-se isso também.
Felizes daqueles que dão tão pouca bola para os outros, o mundo, as coisas, que sentam no chão sujo e molhado e nem pensam na calça que vai ficar imunda. Saudades de ser criança. Melhor voltar pra casa, lavar os pés, botar Band-aid, pôr a calça de molho. Quantas vezes ainda vou ter que andar descalça e sentar em chão molhado até notar que não tenho mais jeito, que sou um animal que não pode mais viver longe do cativeiro?
Num desses dias, cheia da cara sem motivo com tudo e todos, pois afinal a minha vida é, claro, uma bênção se comparada com outras, pois tudo sempre pode ser infinita e cruelmente pior, como catolicamente sempre fomos ensinados a pensar, saí mais cedo da gaiola-escritório, peguei a linha 255 na Uruguai e desci no Gasômetro.
Assim que pus os pés na calçada, tirei os sapatos e senti o concreto áspero sob a pele fina do animal doméstico, criado em regime de confinamento. Senti a dor das pedras e a imemorial desagradável sensação da sujeira, progressivamente aderindo à pele. Sempre tive pesadelos em que e andava descalça e o desconforto era duplo: a vergonha de andar descalça, onde todos estavam calçados e o nojo por sentir os pés cada vez mais sujos.
Enquanto seguia minha trilha acidentada pela calçada que me levaria à beira do rio, não pensava em mais nada a não ser como evitar as pedras e as sujeiras, os chicletes, as baganas de cigarro, os restos de comida, os cacos de vidro. Mas aí vi que o meu esforço de libertação estava sendo mal conduzido. Se era para me libertar das jaulas do dia-a-dia, fodam-se as pedras e as sujeiras, tinha que agüentar firme e manter o olhar no meu objetivo, o rio. Foi o que eu fiz, não sem receio ou asco, mas fiz. Levei bem menos tempo que se tivesse optado pelo percurso com desvios estratégicos. Cheguei à beira do rio e sentei no chão, ao lado de um banco. Chão úmido, calça suja. Foda-se isso também.
Felizes daqueles que dão tão pouca bola para os outros, o mundo, as coisas, que sentam no chão sujo e molhado e nem pensam na calça que vai ficar imunda. Saudades de ser criança. Melhor voltar pra casa, lavar os pés, botar Band-aid, pôr a calça de molho. Quantas vezes ainda vou ter que andar descalça e sentar em chão molhado até notar que não tenho mais jeito, que sou um animal que não pode mais viver longe do cativeiro?
Aos que tem perguntado por Dodô, a gata ex-ninfomaníaca: passa bem e está em repouso sob os cuidados de sua Dinda, Laupinha. Na verdade, ela está hor-ro-ro-sa, já que depois da histerectomia ficou parecendo uma almofada da qual tiraram a metade do recheio. Do que seria a cintura para baixo, ficou só a coluna vertebral, que liga a parte com recheio ao quadril. Segundo a Dra. Scheila, logo isso vai ser preenchido por gordurinhas estratégicas. Tomara. Por enquanto, a Cher (aquela cantora bregérrima que mandou tirar duas costelas para afinar a cintura) visse Hildolina, morreria de inveja.
quinta-feira, outubro 17, 2002
Quanto tempo a gente leva para deixar de ser o que a gente era? As pessoas mudam algumas coisas, mas quando é que a gente já mudou tanto que já não é mais a mesma pessoa de antes?
Se você muda uma opinião, ou várias, se muda postura política, se já não se comporta mais ou passa a comportar-se melhor, se deixa de amar alguém, se se apaixona novamente, se muda o modo de vestir, corta o cabelo, isso tudo não quer dizer que você tenha se tornado outra pessoa. Quando isso acontece, se é que acontece? Quando a metamorfose chega num ponto em que você já não é mais uma lagarta pronta para a Marquês de Sapucaí, mas uma borboleta?
Não sei, sinceramente, mas tem um dia em que a gente olha pra trás e vê um casulo abandonado, se olha no espelho e vê que o avesso tomou conta do dia, ou que há, em algum lugar, uma carapaça abandonada, tal como a de uma aranha que aumentou tanto de tamanho que nela já não mais cabia.
Nesse dia a gente nota que o vento do começo do mundo sopra em nossos cabelos e eles escalam torres, enroscam-se nos ponteiros do relógio e param o tempo, que tudo é fértil e que em nossas pegadas habitam besouros e formigas. Então, com muito cuidado, porque é perigoso, é hora de respirar, novamente pela primeira vez.
Se você muda uma opinião, ou várias, se muda postura política, se já não se comporta mais ou passa a comportar-se melhor, se deixa de amar alguém, se se apaixona novamente, se muda o modo de vestir, corta o cabelo, isso tudo não quer dizer que você tenha se tornado outra pessoa. Quando isso acontece, se é que acontece? Quando a metamorfose chega num ponto em que você já não é mais uma lagarta pronta para a Marquês de Sapucaí, mas uma borboleta?
Não sei, sinceramente, mas tem um dia em que a gente olha pra trás e vê um casulo abandonado, se olha no espelho e vê que o avesso tomou conta do dia, ou que há, em algum lugar, uma carapaça abandonada, tal como a de uma aranha que aumentou tanto de tamanho que nela já não mais cabia.
Nesse dia a gente nota que o vento do começo do mundo sopra em nossos cabelos e eles escalam torres, enroscam-se nos ponteiros do relógio e param o tempo, que tudo é fértil e que em nossas pegadas habitam besouros e formigas. Então, com muito cuidado, porque é perigoso, é hora de respirar, novamente pela primeira vez.
quarta-feira, outubro 16, 2002
"O Oriente tem. Manhattan tem. Berna não tem, como tudo que é neutro..."
Clarice Lispector e Fernando Sabino foram amigos íntimos e trocaram muitas cartas no início da carreira literária de ambos. Em uma dessas cartas, enviada de Berna, onde morava, Clarice escreveu para Sabino: "Falta demônio nessa cidade".
Falta demônio em toda a Suíça. Falta demônio em muitos lugares. Não falta no Brasil, e talvez seja essa a explicação para o encantamento que o país provoca em estrangeiros e nativos: é o feitiço da irreverência.
Os Beatles flertavam parcimoniosamente com o demônio quando cantavam She loves you, ye, ye, ye, tornando-se mais famosos que Jesus Cristo. Só deixaram o demônio tomar conta em discos como Sargent Pepper's, Álbum Branco e Abbey Road, numa época em que Mick Jagger julgava-se o único representante de Lúcifer na Terra. Sempre houve demônio no rock.
Há demônio no vinho, falta no clericot. Há demônio no jeans, falta no linho. Há demônio nas fotos em preto-e-branco. Há demônio no cinema, não há na televisão.
Há demônio em livros, não há em revistas. Há demônio em Picasso, Almodóvar, Wagner, Janis Joplin. Há demônio na chuva mais do que no sol, há demônio no humor e na ironia, nenhum demônio no pastelão.
Não há demônio em bichos e crianças. Volto atrás sobre as crianças. Em algumas há, mas somente nas muito especiais. As outras pensam que são espertas, mas são apenas mal-educadas.
Na poesia há sempre demônio. Na boa poesia, na poesia marginal, na poesia de amor.
Paixão é quando o demônio está nu. Sexo com quem se ama é muito mais satânico, não precisa ser um amor pra sempre, pode ser um amor de repente, qualquer amor inferniza.
Coca-cola tem mais demônio que guaraná. A inteligência tem mais demônio que a simpatia. A vida tem mais demônio que a morte.
Filosofia, psicanálise, beijo, aventura, silêncio. Um minuto de silêncio. O pensamento é o demo.
O Oriente tem. Manhattan tem. Berna não tem, como tudo que é neutro.
Clarice Lispector e Fernando Sabino foram amigos íntimos e trocaram muitas cartas no início da carreira literária de ambos. Em uma dessas cartas, enviada de Berna, onde morava, Clarice escreveu para Sabino: "Falta demônio nessa cidade".
Falta demônio em toda a Suíça. Falta demônio em muitos lugares. Não falta no Brasil, e talvez seja essa a explicação para o encantamento que o país provoca em estrangeiros e nativos: é o feitiço da irreverência.
Os Beatles flertavam parcimoniosamente com o demônio quando cantavam She loves you, ye, ye, ye, tornando-se mais famosos que Jesus Cristo. Só deixaram o demônio tomar conta em discos como Sargent Pepper's, Álbum Branco e Abbey Road, numa época em que Mick Jagger julgava-se o único representante de Lúcifer na Terra. Sempre houve demônio no rock.
Há demônio no vinho, falta no clericot. Há demônio no jeans, falta no linho. Há demônio nas fotos em preto-e-branco. Há demônio no cinema, não há na televisão.
Há demônio em livros, não há em revistas. Há demônio em Picasso, Almodóvar, Wagner, Janis Joplin. Há demônio na chuva mais do que no sol, há demônio no humor e na ironia, nenhum demônio no pastelão.
Não há demônio em bichos e crianças. Volto atrás sobre as crianças. Em algumas há, mas somente nas muito especiais. As outras pensam que são espertas, mas são apenas mal-educadas.
Na poesia há sempre demônio. Na boa poesia, na poesia marginal, na poesia de amor.
Paixão é quando o demônio está nu. Sexo com quem se ama é muito mais satânico, não precisa ser um amor pra sempre, pode ser um amor de repente, qualquer amor inferniza.
Coca-cola tem mais demônio que guaraná. A inteligência tem mais demônio que a simpatia. A vida tem mais demônio que a morte.
Filosofia, psicanálise, beijo, aventura, silêncio. Um minuto de silêncio. O pensamento é o demo.
O Oriente tem. Manhattan tem. Berna não tem, como tudo que é neutro.
Que reservam suas entranhas a estranhos
Na esperança de preencher
Há pessoas que se fecham enquanto abrem
Que fingem pela pressa do querer
Eu não
Se for para ser assim, que eu seja cobaia de mim
A permitir que as minhas mãos autofágicas
Tornem-se, num passe de mágicas,
Pura fantasia
Fantasmas
Na cama vazia.
(Paula Taitelbaum)
Paula Taitelbaum vai autografar o novo livro, Mundo da Lua, na Bamboletras, sábado,19, às 17h.
"... penso que devemos ler apenas livros que nos ferem, que nos afligem. Se o livro que estamos lendo não nos desperta como um soco no crânio, por que perder tempo lendo-o em primeiro lugar? Para que ele nos torne felizes, como você diz? Ah... nós seríamos felizes do mesmo modo se esses livros não existissem. Livros que nos fazem felizes poderseríamos escrever nós mesmos num piscar de olhos. Precisamos de livros que nos atinjam como a mais dolorosa desventura, como a morte de alguém que amamos mais que a nós mesmos, que nos faça sentir que fomos banidos para o ermo, para longe de qualquer presença humana - como um suicídio. Um livro deve ser como uma machadada no mar congelado dentro de nós." Franz Kafka
Esta citação de Kafka foi extraída do Biscoito Doce.
Diferente dos livros, é o cinema. Em 99,9% dos casos, também se aplica a mesma regra. Melhor sair do cinema reduzido à panqueca de vento. Contudo, tem horas que a gente precisa de um filme com Selo ABIC de final feliz, é ou não é? Tudo bem, a gente não vai discutir os argumentos daqueles besteiróis americanóides idiotas, nem a direção, nem o roteiro, mas, às vezes, é bom, nem que seja para variar.
Esta citação de Kafka foi extraída do Biscoito Doce.
Diferente dos livros, é o cinema. Em 99,9% dos casos, também se aplica a mesma regra. Melhor sair do cinema reduzido à panqueca de vento. Contudo, tem horas que a gente precisa de um filme com Selo ABIC de final feliz, é ou não é? Tudo bem, a gente não vai discutir os argumentos daqueles besteiróis americanóides idiotas, nem a direção, nem o roteiro, mas, às vezes, é bom, nem que seja para variar.
terça-feira, outubro 15, 2002
Li um poema do Vinicius em um blog (que droga, li tantos blogues que agora não sei mais em qual foi e peço desculpas) e simplesmente concluí que este tal de Vinicius de Moraes é um plageador de sentimentos sem escrúpulos nem consideração, como parecem ser todos os poetas de verdade. Já disse uma poeta que poetar é "em outros amores amar e em outras dores morrer um pouco". Eles fazem isso, trazem à tona as nossas vergonhas, dores, vísceras.
Fica aqui minha moção de repúdio ao Poetinha. Precisava me fazer sentir deste jeito? Bem hoje? Precisava?
A Miragem
Vinicius de Moraes
Não direi que a tua visão desapareceu dos meus olhos sem vida
Nem que a tua presença se diluiu na névoa que veio.
Busquei inutilmente acorrentar-te a um passado de dores
Inutilmente.
Vieste – tua sombra sem carne me acompanha
Como o tédio da última volúpia.
Vieste – e contigo um vago desejo de uma volta inútil
E contigo uma vaga saudade...
És qualquer coisa que ficará na minha vida sem termo
Como uma aflição para todas as minhas alegrias.
Tu és a agonia de todas as posses
És o frio de toda a nudez
E vã será toda a tentativa de me liberar da tua lembrança.
Mas quando cessar em mim todo o desejo de vida
E quando eu não for mais que o cansaço da minha caminhada pela areia
Eu sinto que me terás como me tinhas no passado –
Sinto que me virás oferecer a água mentirosa
Da miragem.
Talvez num ímpeto eu prefira colar a boca à areia estéril
Num desejo de aniquilamento.
Mas não. Embora sabendo que nunca alcançarei a tua imagem
Que estará suspensa e me prometerá água
Embora sabendo que tu és a que foge
Eu me arrastarei para os teus braços.
Fica aqui minha moção de repúdio ao Poetinha. Precisava me fazer sentir deste jeito? Bem hoje? Precisava?
Vinicius de Moraes
Não direi que a tua visão desapareceu dos meus olhos sem vida
Nem que a tua presença se diluiu na névoa que veio.
Busquei inutilmente acorrentar-te a um passado de dores
Inutilmente.
Vieste – tua sombra sem carne me acompanha
Como o tédio da última volúpia.
Vieste – e contigo um vago desejo de uma volta inútil
E contigo uma vaga saudade...
És qualquer coisa que ficará na minha vida sem termo
Como uma aflição para todas as minhas alegrias.
Tu és a agonia de todas as posses
És o frio de toda a nudez
E vã será toda a tentativa de me liberar da tua lembrança.
Mas quando cessar em mim todo o desejo de vida
E quando eu não for mais que o cansaço da minha caminhada pela areia
Eu sinto que me terás como me tinhas no passado –
Sinto que me virás oferecer a água mentirosa
Da miragem.
Talvez num ímpeto eu prefira colar a boca à areia estéril
Num desejo de aniquilamento.
Mas não. Embora sabendo que nunca alcançarei a tua imagem
Que estará suspensa e me prometerá água
Embora sabendo que tu és a que foge
Eu me arrastarei para os teus braços.
Frei Betto
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1. Mantenha viva a indignação.
Verifique periodicamente se você é mesmo de esquerda. Adote o critério de Norberto Bobbio: a direita considera a desigualdade social tão natural quanto a diferença entre o dia e a noite. A esquerda encara-a como uma aberração a ser erradicada.
Cuidado: você pode estar contaminado pelo vírus social-democrata, cujos principais sintomas são usar métodos de direita para obter conquistas de esquerda e, em caso de conflito, desagradar aos pequenos para não ficar mal com os grandes.
2. A cabeça pensa onde os pés pisam.
Não dá para ser de esquerda sem "sujar" os sapatos lá onde o povo vive, luta, sofre, alegra-se e celebra suas crenças e vitórias. Teoria sem prática é fazer o jogo da direita.
3. Não se envergonhe de acreditar no socialismo.
O escândalo da Inquisição não faz os cristãos abandonarem os valores e as propostas do Evangelho. Do mesmo modo, o fracasso do socialismo no Leste europeu não deve induzi-lo a descartar o socialismo do horizonte da história humana.
O capitalismo, vigente há 200 anos, fracassou para a maioria da população mundial. Hoje, somos 6 bilhões de habitantes. Segundo o Banco Mundial, 2,8 bilhões sobrevivem com menos de US$ 2 por dia. E 1,2 bilhão, com menos de US$ 1 por dia. A globalização da miséria só não é maior graças ao socialismo chinês que, malgrado seus erros, assegura alimentação, saúde e educação a 1,2 bilhão de pessoas.
4. Seja crítico sem perder a autocrítica.
Muitos militantes de esquerda mudam de lado quando começam a catar piolho em cabeça de alfinete. Preteridos do poder, tornam-se amargos e acusam os seus companheiros(as) de erros e vacilações. Como diz Jesus, vêem o cisco do olho do outro, mas não o camelo no próprio olho. Nem se engajam para melhorar as coisas. Ficam como meros espectadores e juízes e, aos poucos, são cooptados pelo sistema.
Autocrítica não é só admitir os próprios erros. É admitir ser criticado pelos(as) companheiros(as).
5. Saiba a diferença entre militante e "militonto".
"Militonto" é aquele que se gaba de estar em tudo, participar de todos os eventos e movimentos, atuar em todas as frentes. Sua linguagem é repleta de chavões e os efeitos de sua ação são superficiais.
O militante aprofunda seus vínculos com o povo, estuda, reflete, medita; qualifica-se numa determinada forma e área de atuação ou atividade, valoriza os vínculos orgânicos e os projetos comunitários.
6. Seja rigoroso na ética da militância.
A esquerda age por princípios. A direita, por interesses. Um militante de esquerda pode perder tudo a liberdade, o emprego, a vida. Menos a moral. Ao desmoralizar-se, desmoraliza a causa que defende e encarna. Presta um inestimável serviço à direita. Há pelegos disfarçados de militante de esquerda. É o sujeito que se engaja visando, em primeiro lugar, sua ascensão ao poder. Em nome de uma causa coletiva, busca primeiro seu interesse pessoal.
O verdadeiro militante como Jesus, Gandhi, Che Guevara é um servidor, disposto a dar a própria vida para que outros tenham vida. Não se sente humilhado por não estar no poder, ou orgulhoso ao estar. Ele não se confunde com a função que ocupa.
7. Alimente-se na tradição da esquerda.
É preciso oração para cultivar a fé, carinho para nutrir o amor do casal, "voltar às fontes" para manter acesa a mística da militância. Conheça a história da esquerda, leia (auto)biografias, como o "Diário do Che na Bolívia", e romances como "A Mãe", de Gorki, ou "As Vinhas de Ira", de Steinbeck.
8. Prefira o risco de errar com os pobres a ter a pretensão de acertar sem eles.
Conviver com os pobres não é fácil. Primeiro, há a tendência de idealizá-los. Depois, descobre-se que entre eles há os mesmos vícios encontrados nas demais classes sociais. Eles não são melhores nem piores que os demais seres humanos. A diferença é que são pobres, ou seja, pessoas privadas injusta e involuntariamente dos bens essenciais à vida digna. Por isso, estamos ao lado deles. Por uma questão de justiça.
Um militante de esquerda jamais negocia os direitos dos pobres e sabe aprender com eles.
9. Defenda sempre o oprimido, ainda que aparentemente ele não tenha razão.
São tantos os sofrimentos dos pobres do mundo que não se pode esperar deles atitudes que nem sempre aparecem na vida daqueles que tiveram uma educação refinada. Em todos os setores da sociedade há corruptos e bandidos. A diferença é que, na elite, a corrupção se faz com a proteção da lei e os bandidos são defendidos por mecanismos econômicos sofisticados, que permitem que um especulador leve uma nação inteira à penúria.
A vida é o dom maior de Deus. A existência da pobreza clama aos céus. Não espere jamais ser compreendido por quem favorece a opressão dos pobres.
10. Faça da oração um antídoto contra a alienação.
Orar é deixar-se questionar pelo Espírito de Deus. Muitas vezes deixamos de rezar para não ouvir o apelo divino que exige a nossa conversão, isto é, a mudança de rumo na vida. Falamos como militantes e vivemos como burgueses, acomodados ou na cômoda posição de juízes de quem luta.
Orar é permitir que Deus subverta a nossa existência, ensinando-nos a amar assim como Jesus amava, libertadoramente.
segunda-feira, outubro 14, 2002
Minha querida gata, Hilda, também conhecida como Hildolina e chamada carinhosamente de Dodô, em cuja homenagem o template deste blog foi escolhido e cujo impulso ninfomaníaco era irrefreável, está, neste exato momento, sendo castrada (será que fêmeas são castradas, é assim que se diz?). Sua mãe (eu) e sua Dinda (Laupinha) estão nervosíssimas, mas os vizinhos, as cortinas, o sofá, a samambaia, os vasos e até os cactus da casa estão em festa. Boa sorte, Dodô.
domingo, outubro 13, 2002
(Florbela Espanca)
Se tu viesses ver-me hoje à tardinha,
A essa hora dos mágicos cansaços,
Quando a noite de manso se avizinha,
E me prendesses toda nos teus braços...
Quando me lembra: esse sabor que tinha
A tua boca... o eco dos teus passos...
O teu riso de fonte... os teus abraços...
Os teus beijos... a tua mão na minha...
Se tu viesses quando, linda e louca,
Traça as linhas dulcíssimas dum beijo
E é de seda vermelha e canta e ri
E é como um cravo ao sol a minha boca...
Quando os olhos se me cerram de desejo...
E os meus braços se estendem para ti...
sábado, outubro 12, 2002
Em homenagem ao maior poeta do rock nacional, Renato, falecido há 6 anos:
Sou um animal sentimental, me apego facilmente ao que desperta o meu desejo. Tente me obrigar a fazer o que não quero e 'cê vai logo ver o que acontece...
Ah, Renato, saudades. O mundo precisa desesperadamente de animais sentimentais.
...E há tempos são os jovens que adoecem e há tempos o encanto está ausente e há ferrugem nos sorrisos e só o acaso estende os braços a quem procura abrigo e proteção...
Sou um animal sentimental, me apego facilmente ao que desperta o meu desejo. Tente me obrigar a fazer o que não quero e 'cê vai logo ver o que acontece...
Ah, Renato, saudades. O mundo precisa desesperadamente de animais sentimentais.
...E há tempos são os jovens que adoecem e há tempos o encanto está ausente e há ferrugem nos sorrisos e só o acaso estende os braços a quem procura abrigo e proteção...
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