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quinta-feira, outubro 31, 2002


Esses somos eu e meu amigo existencialista depressivo conversando. Eu o adoro, mas ele tem essa mania de insignificância.
Esta tirinha foi retirada do site do LFV, que é muito legal.


Ele voltou! - Sim, crianças, é verdade. Dr. Hannibal Lecter is back. Amanhã estréia Red Dragon e Ticinha estará lá, para conferir seu psicopata favorito.

quarta-feira, outubro 30, 2002




Luis Inácio - Lula é o quarto presidente que eu vejo chegar ao planalto desde que tenho condições de entender e avaliar o que está acontecendo. Passei pelo Collor e duas vezes pelo FFHH.
Quando o Collor assumiu, com aquele jeitão de super herói cucaracha, dizendo que iria dar um tiro na testa do tigre da inflação (só tinha uma bala, etc.) e acabar com os marajás, eu, aos 16 anos, achava que já sabia no que iria dar. Fui surpreendida pelo ponto a que chegou uma população que eu julgava acomodada demais para tomar uma atitude. Eu cursava Letras e fui pra rua de cara pintada. Lembro de um professor querido, pelos corredores aos pulos e de braços erguidos, gritando "Pegaram o chefe da quadrilha! Pegaram o chefe da quadrilha!"
FFHH 1 - o sociólogo, assumiu o governo prometendo cinco coisas (lembra da mãozinha aberta?) e FFHH 2 - o capacho, prometendo criar 8 milhões de empregos.
Lula falou de fome, de miséria e de dignidade. Quando o ouvi dizer que, se ao final de seu governo, todos os brasileiros estivessem fazendo três refeições ao dia, a missão de sua vida estaria cumprida, pensei no quantas pessoas poderiam não ter morrido de fome nestes 13 anos, se ele tivesse sido eleito em 89. Se durante esses anos não tivéssemos servido crianças mortas de desnutrição e famílias inteiras alimentadas de lixo em bandejas de prata a banqueiros, especuladores e corruptos. Se não tivéssemos tanta vergonha de nós mesmos e de nossos pares, se não julgássemos incapazes aqueles que vêm das mesmas origens, se não temêssemos tomar as rédeas dos nossos próprios destinos e entregá-las a um de nós, pobre, feio, com pouca instrução, que fala errado mas sabe que fome dói, que miséria humilha, e que o que importa é ter dignidade, princípios e lutar pelo que se acredita.
Deus te abençoe, Luis Inácio. Teu sonho é o nosso sonho.

terça-feira, outubro 29, 2002

Para Viver Um Grande Amor
Vinicius de Moraes


Para viver um grande amor, preciso é muita concentração e muito siso, muita seriedade e pouco riso — para viver um grande amor.
Para viver um grande amor, mister é ser um homem de uma só mulher; pois ser de muitas, poxa! é de colher... — não tem nenhum valor.
Para viver um grande amor, primeiro é preciso sagrar-se cavalheiro e ser de sua dama por inteiro — seja lá como for. Há que fazer do corpo uma morada onde clausure-se a mulher amada e postar-se de fora com uma espada — para viver um grande amor.
Para viver um grande amor, vos digo, é preciso atenção como o "velho amigo", que porque é só vos quer sempre consigo para iludir o grande amor. É preciso muitíssimo cuidado com quem quer que não esteja apaixonado, pois quem não está, está sempre preparado pra chatear o grande amor.
Para viver um amor, na realidade, há que compenetrar-se da verdade de que não existe amor sem fidelidade — para viver um grande amor. Pois quem trai seu amor por vanidade é um desconhecedor da liberdade, dessa imensa, indizível liberdade que traz um só amor.
Para viver um grande amor, il faut além de fiel, ser bem conhecedor de arte culinária e de judô — para viver um grande amor.
Para viver um grande amor perfeito, não basta ser apenas bom sujeito; é preciso também ter muito peito — peito de remador. É preciso olhar sempre a bem-amada como a sua primeira namorada e sua viúva também, amortalhada no seu finado amor.
É muito necessário ter em vista um crédito de rosas no florista — muito mais, muito mais que na modista! — para aprazer ao grande amor. Pois do que o grande amor quer saber mesmo, é de amor, é de amor, de amor a esmo; depois, um tutuzinho com torresmo conta ponto a favor...
Conta ponto saber fazer coisinhas: ovos mexidos, camarões, sopinhas, molhos, strogonoffs — comidinhas para depois do amor. E o que há de melhor que ir pra cozinha e preparar com amor uma galinha com uma rica e gostosa farofinha, para o seu grande amor?
Para viver um grande amor é muito, muito importante viver sempre junto e até ser, se possível, um só defunto — pra não morrer de dor. É preciso um cuidado permanente não só com o corpo mas também com a mente, pois qualquer "baixo" seu, a amada sente — e esfria um pouco o amor. Há que ser bem cortês sem cortesia; doce e conciliador sem covardia; saber ganhar dinheiro com poesia — para viver um grande amor.
É preciso saber tomar uísque (com o mau bebedor nunca se arrisque!) e ser impermeável ao diz-que-diz-que — que não quer nada com o amor.
Mas tudo isso não adianta nada, se nesta selva oscura e desvairada não se souber achar a bem-amada — para viver um grande amor.

Texto extraído do livro "Para Viver Um Grande Amor", José Olympio Editora - Rio de Janeiro, 1984, pág. 130.


O grande amor - Aos 18 anos, eu assistia filmes e lia livros sobre grandes paixões e amores incomensuráveis e ficava tranqüila. Afinal, não precisava me angustiar, nada do que eu tinha vivido poderia ter sido o grande amor da minha vida, já que, pela lógica, o GA (grande amor) deveria chegar mais adiante, quando eu já tivesse os meus trinta, trinta e poucos anos, ou seja, depois de eu ter me tornado uma mulher com m maiúsculo: independente, segura de si, experiente, ciente das minhas possibilidades e limitações, depois de saber distinguir impressionistas de simbolistas, depois de ter lido Sartre, depois que meus poemas virassem poemas de verdade, depois de ter ido à Europa, depois de aprender a beber vinho, depois de saber cozinhar, depois de ter comprado todos os discos que eu queria, depois de aprender francês, depois de ter coragem de fazer o que me desse na cabeça (de sexo a profissão).
Durante um tempo, eu achei que tinha encontrado o GA. Depois, eu comecei a pensar que os trinta, trinta e poucos vinham chegando, que alguma daquelas coisas eu já tinha conquistado, outras não. Não era ele. Conheci pessoas e a lista de coisas que eu deveria ter acumulado antes de encontrar o GA ficou completa.
Agora a dúvida é cruel: se já encontrei o GA e não ficamos juntos, deveria dizer: “Peraí, você é o GA, volte aqui já e cumpra sua missão na terra!” Mas e se ele não voltar, e eu continuar vivendo, amando outras pessoas, vivendo outra vida, deixando os meses e os anos passarem até um dia olhar no espelho e concluir: “Era ele. O que foi que nós fizemos?!” Se não o encontrei ainda, será que existe?

segunda-feira, outubro 28, 2002

Prelúdios-Intensos para os desmemoriados do amor

Que boca há de roer o tempo? Que rosto
Há de chegar depois do meu? Quantas vezes
O tule do meu sopro há de pousar
Sobre a brancura fremente do teu dorso?

Atravessaremos juntos as grandes espirais
A artéria estendida do silêncio, o vão
O patamar do tempo?

Quantas vezes dirás: vida, vésper, magna-marinha
E quantas vezes direi: és meu. E as distendidas
Tardes, as largas luas, as madrugadas agônicas
Sem poder tocar-te. Quantas vezes, amor

Uma nova vertente há de nascer em ti
E quantas vezes em mim há de morrer.

(Hilda Hilst, Júbilo, Memória e Noviciado da Paixão, Globo, 2001)
Bálsamo para os ouvidos - CQC, meu tutor para fins musicais e outras cositas que não vem ao caso, indicou Norah Jones. A moça é filha do Ravi Shankar. Comprei o CD na sexta e ouvi 235.567.733 vezes durante o fim de semana. Continuo ouvindo agora. Ouçam, comprem, peçam emprestado (não pra mim, pelo menos nos próximos meses), roubem, mas não deixem de conhecer.
Angie, para teres noção, ela tem a voz parecida com a vocalista do Fairground. Believe me.
O CD é jazz, mas tem um toque de folk, talvez uma pitada de country, mas tudo muito sutil. Predomina o duo voz-piano, que é de morrer.
A criatura é pianista, tem uma voz divina e, além de tudo, é linda. Ô mundo injusto!
Contradições do pampa - Muito bem, pessoal. O Lula é presidente do Brasil. Finalmente. Mas o Rigotto ganhou no RS! Tá certo que o estado tem tradição de ser oposição, mas isso já é ridículo. Ô burrice! BenzaDeus.

sexta-feira, outubro 25, 2002

Férias - Amanhã e domingo não mandarei nada para o blog. Estarei em Pelotas, meu domicilio eleitoral, votando. Espero fazer alguns votos de cabresto também, pra dar uma forcinha pra democracia.


Muito bem: "- AOS SORVETES!!!!"
Esta tirinha é gentileza da Lali. Valeu Lali! Beijo.
Limpador de pára-brisa para óculos: Eu e Laupinha resolvemos patentear os óculos com limpador de pára-brisa. Sim, eu sei que já tiveram esta idéia antes, mas eu e ela bolamos o limpador com três velocidades (atentar para os efeitos sonoros):

1) chuvisco:
wi - cki... ... ... wi - cki... ... ... wi - cki... ... ... wi - cki...

2) chuva:
wick... wick... wick... wick

3) temporal:
wick,wick,wick,wick,wick

Muito bem, confessem, é a coisa mais ridícula que já leram em um blog ou não é?

quinta-feira, outubro 24, 2002

Hoje tô muito cansada. Amanhã envio alguma coisa.
O que eu posso dizer é o seguinte:

"Tua boca me arranca da terra e me manda para algum lugar entre o céu e um infinito de estrelas".

quarta-feira, outubro 23, 2002

Depois da Guerra - Vinicius de Moraes


Depois da Guerra vão nascer lírios nas pedras, grandes lírios cor de sangue, belas rosas desmaiadas. Depois da Guerra vai haver fertilidade, vai haver natalidade, vai haver felicidade. Depois da Guerra, ah meu Deus, depois da Guerra, como eu vou tirar a forra de um jejum longo de farra! Depois da Guerra vai-se andar só de automóvel, atulhado de morenas todas vestidas de short. Depois da Guerra, que porção de preconceitos vão se acabar de repente com respeito à castidade! Moças saudáveis serão vistas pelas praias, mamães de futuros gêmeos, futuros gênios da pátria. Depois da Guerra, ninguém bebe mais bebida que não tenha um bocadinho de matéria alcoolizante. A coca-cola será relegada ao olvido, cachaça e cerveja muita, que é bom pra alegrar a vida! Depois da Guerra não se fará mais a barba, gravata só pra museu, pés descalços, braços nus. De­pois da Guerra, acabou burocracia, não haverá mais despachos, não se assina mais o ponto. Branco no preto, preto e branco no amarelo, no meio uma fita de ouro gravada com o nome dela. Depois da Guerra ninguém corta mais as unhas, que elas já nascem cortadas para o resto da existência. Depois da Guerra não se vai mais ao dentista, nunca mais motor no nervo, nunca mais dente postiço. Vai haver cálcio, vitamina e extrato hepático correndo nos chafarizes pelas ruas da Cidade. Depois da Guerra não haverá mais Cassinos, não haverá mais Lídices, não haverá mais Guernicas. Depois da Guerra vão voltar os bons tempinhos do carnaval carioca com muito confete, entrudo e briga. Depois da Guerra, pirulim, depois da Guerra, vai surgir um sociólogo de espantar Gilberto Freyre. Vai se estudar cada coisa mais gozada, por exemplo, a relaÇão entre o Cosmos e a mulata. Grandes poetas farão grandes epopéias, que deixarão no chinelo Camões, Dante e Itararé. Depois da Guerra, meu amigo Graciliano pode tirar os chinelos e ir dormir a sua sesta. Os romancistas viverão só de estipêndios, trabalhando sossegados numa casa na montanha. Depois da Guerra vai-se tirar muito mofo de homens padronizados pra fazer penicilina. Depois da Guerra não haverá mais tristeza: todo o mundo se abraçando num geral desarmamento. Chega francês, bate nas costas do inglês, que convida o italiano para um chope no Alemão. Depois da Guerra, pirulim, depois da Guerra, as mulheres andarão perfeitamente à vontade. Ninguém dirá a expressão "mulher perdida", que serão todas achadas sem mais banca, sem mais briga. Depois da Guerra vão se abrir todas as burras, quem estiver mal de cintura, faz logo um requerimento. Os operários irão ao Bife de Ouro, comerão somente o bife, que ouro não é comestível. Gentes vestindo macacões de fecho zíper dançarão seu jiterburgue em plena Copacabana. Bandas de música voltarão para os coretos, o povo se divertindo no remelexo do samba. E quanto samba, quanta doce melodia, para a alegria da massa comendo cachorro-quente! O poeta Schmidt voltará à poesia, de que anda desencantado e escreverá grandes livros. Quem quiser ver o poeta Carlos criando, ligará a televisão, lá está ele, que homem magro! Manuel Bandeira dará aula em praça pública, sua voz seca soando num bruto de um megafone. Murilo Mendes ganhará um autogiro, trará mensagens de Vênus, ensinando o povo a amar. Aníbal Machado estará são como um perro, numa tal atividade que Einstein rasga seu livro. Lá no planalto os negros nossos irmãos voltarão para os seus clubes de que foram escorraçados por lojistas da Direita (rua). Ah, quem me dera que essa Guerra logo acabe e os homens criem juízo e aprendam a viver a vida. No meio tempo, vamos dando tempo ao tempo, tomando nosso chopinho, trabalhando pra família. Se cada um ficar quieto no seu canto, fazendo as coisas certinho, sem aturar desaforo; se cada um tomar vergonha na cara, for pra guerra, for pra fila com vontade e paciência — não é possível! esse negócio melhora, porque ou muito me engano, ou tudo isso não passa de um grande, de um doloroso, de um atroz mal-entendido!
(Maio de 1944)

Cai bem para esta semana, não acham?
Da série "Trilha Sonora do Filme sobre a Minha Vida", roteiro Nick Hornby: Além da música "Something" (George Harrison), cantada pelo Joe Cocker, é imprescindível alguma música do Henri Salvador. Pode ser "Il fait dimanche". Vai cair muito bem naquela parte do tórrido romance em Paris. Não, pessoal, eu AINDA não vivi nenhuma paixão em Paris. AINDA, ressalte-se. Mas uma bossa nova em francês vai ficar ótima.
"A chaque fois que tu souris, c'est la revanche de l'amour sur le temps qui passe sans bruit"

terça-feira, outubro 22, 2002

Coisa mais querida - Paula Taitelbaum me mandou um e-mail para agradecer pela divulgação do lançamento do novo livro, Mundo da Lua. Imagina, era até uma obrigação depois de ter usados os poemas dela no blog (lindos, lindos, lindos).
Vai mais uma dica: pra quem perdeu o lançamento na Bamboletras, Paula autografa na Feira do Livro de Porto Alegre, dia 08/11 às 19h. Desta vez, nem a lasanha da Tia Têre me impedirá de comparecer.
Notaram?! Meu Blog está de cara nova. Espero ter agradado. Obrigado. (Aplausos)
Mais uma vez, a minha querida idolatrada salve, salve Angie, presta um serviço relevante a este blog, ensinando à sua titubeante administradora a inserir imagens. É graças a ela que teremos um blog mais...digamos... ilustrado. Beijo Angie.

Mais tiras do Fradim, no Mundo Perfeito. Esse pessoal do Mundo Perfeito é muito DEZ.

segunda-feira, outubro 21, 2002

FEIRA DE FRANKFURT, FOLHA DE SÃO PAULO, 15.10.2002, CASSIANO ELEK MACHADO, ENVIADO ESPECIAL A FRANKFURT
Autora de "No Logo", canadense elogia democracia participativa do partido em congresso alemão.
PT é inspiração para o mundo, diz Klein

Lá estavam diversos pesos-pesados da intelectualidade mundial: o escritor israelense Amos Oz, o "enfant terrible" do maio de 68 francês Daniel Cohn-Bendit, o influente crítico indiano Homi K. Bhabha e o provocante filósofo esloveno Slavoj Zizek.
Mas não foi nenhum desses consagrados cinquentões e sessentões o grande destaque da primeira edição do Futura Mundi, um novo congresso de debates globais organizado pela Feira do Livro de Frankfurt.
O evento foi de Naomi Klein, jornalista e escritora canadense de 1,65m, 32 anos e feições de personagem de sitcom americana.
Autora do aclamado "No Logo", livro lançado em 2000 e lastreado em uma crítica severa às desigualdades provocadas pela sociedade de consumo, Klein teve as intervenções mais aplaudidas pelas 800 pessoas que passaram por três camadas de detectores de metais e outras camadas de seguranças brutamontes e lotaram a maior sala do gigante complexo da feira frankfurtiana para assistir ao fórum.
Um dos eixos do discurso da canadense foi justamente o nosso Partido dos Trabalhadores e seu "incrivelmente inspirador modelo de orçamentos participativos".
Klein ganhou a platéia logo no início de sua fala. Antes dela, Cohn-Bendit havia feito uma apologia do fortalecimento de uma grande Europa, que deveria se contrapor aos dominantes Estados Unidos da América.
"Todos os sonhos do mundo não podem ser feitos em Hollywood", disse de modo inflamado.
E veio a canadense em seguida dar uma invertida em "Daniel, o Vermelho", como é conhecido o ativista político francês. "Isso que Cohn-Bendit defendeu é uma grande e injusta ilusão que estão tentando empurrar garganta abaixo dos europeus. A Europa não é nem será inimiga dos EUA, ela é sócia do império."
Se o tema do congresso era "Pontes para um Mundo Dividido" -inspirado em frase de Abraham Lincoln-, a autora de "No Logo" propôs que essas ligações fossem feitas "em movimentos sociais de países sem poder".
Palmas
Acabada a conferência, recolhidas as palmas, Klein foi a única conferencista com 360º de jornalistas a seu redor. Um pedia uma entrevista, outro contestava uma de suas idéias e assim por diante. A Folha entrou no bolo e solicitou que ela respondesse apenas uma pergunta, sobre o Brasil.
"Ah, temos aqui um jornalista brasileiro. Colegas, sinto muito, mas tenho só dez minutos antes do meu próximo compromisso e vou dá-los ao Brasil", disse Klein.
A pergunta era: Tariq Ali, escritor paquistanês, defendeu também no congresso a política brasileira de quebra de patentes para fazer remédios baratos contra a Aids (atuação do candidato José Serra) e exaltou ainda a provável vitória de Lula ("parte de um pacote de grandes mudanças democráticas na América Latina, que inclui o Peru, o crescimento dos cocaleiros na Bolívia..."). Você usou as experiências de orçamentos participativos no Rio Grande do Sul como um modelo inspirador. Por que o Brasil está tão presente neste fórum mundial?
A jornalista diz que "o que existe na maior parte do mundo é uma fotocópia de uma fotocópia de uma fotocópia de democracia". "O Partido dos Trabalhadores brasileiro é hoje a principal fonte de inspiração para forças sociais de todo o mundo para a construção de um novo modelo de democracia, baseado na participação constante do povo."
Klein, que esteve no Brasil no início do ano para o Fórum Social Mundial, acha que a única coisa que reforçaria para Lula é que nem ao menos pensasse no modelo de Hugo Chávez. "O PT deve esquecer completamente a Venezuela. Tem de buscar legitimidade é na participação popular."
E o partido terá como fazer isso em escala nacional? "Não será fácil", diz a autora do chamado ""O Capital" da geração Seattle". "O FMI ter oferecido o empréstimo de US$ 30 bilhões quando e como fez, pós-datando a maior parte do cheque e condicionando o empréstimo a uma continuidade econômica, é colocar grades na democracia", afirma a escritora, que deve lançar no final do mês, nos EUA, seu segundo livro, "Grades e Janelas".
"O que é importante que Lula saiba é que uma grande camada da intelectualidade mundial estará acompanhado com carinho o seu trabalho", disse Klein, já cercada por seguranças "4x4" que "escoltaram" a jornalista para fora da sala.
"Se vai dar certo ou não só poderemos saber na altura da Feira de Frankfurt do ano que vem", concluiu Klein.

domingo, outubro 20, 2002

Domingo em Porto Alegre - Amanheceu um dia bonitinho, com sol e super quente. Várias pessoas pelas ruas portando suas respectivas bandeiras. Este fim de semana tinha mais PT nas ruas que fim de semana passado. Deve ter sido o efeito comício, de sexta, que estava um ESPETÁCULO. O discurso do Lula foi de arrepiar, mas lindo mesmo foi o fim do comício, onde hordas de pessoas deslocavam-se pelas ruas, indo embora cantando, abraçadas. É o que eu chamo de espírito natalino do dia de comício. Peguei a onda que foi pela José do Patrocínio e entrou na República. Pena que o RS não é só a Cidade Baixa - estaríamos reeleitos com 98% dos votos. (Esclarecimento aos não-Porto-alegrenses: a Cidade Baixa é o Quartier Latin de Porto Alegre). Depois, o domingo enferruscou e choveu. Tá até friozinho. Vai dar para ir pegar um cineminha no Guion, com direito a café e passadinha na Bamboletras. Eu amo a Cidade Baixa. Pra combinar, estou ouvindo Telhados de Paris, com o Nei Lisboa.
Mais Hilda Hilst

De tanto te pensar, Sem Nome, me veio a ilusão.
A mesma ilusão
Da égua que sorve a água pensando sorver a lua.
De te pensar me deito nas aguadas
E acredito luzir e estar atada
Ao fulgor do costado de um negro cavalo de cem luas.
De te sonhar, Sem Nome, tenho nada
Mas acredito em mim o ouro e o mundo.
De te amar, possuída de ossos e de abismos
Acredito ter carne e vadiar
Ao redor dos teus cimos.
De nunca te tocar
Tocando os outros
Acredito ter mãos, acredito ter boca
Quando só tenho pata e focinho.
Do muito desejar altura e eternidade
Me vem a fantasia de que Existo e Sou.
Quando sou nada: égua fantasmagórica
Sorvendo a lua n'água.


O absurdo desta mulher é a capacidade que ela tem de se enxergar sem auto-comiseração. Alguém que se enxerga com patas e focinho é alguém digna de reverência. Isso é muito mais que auto-crítica.

Shit happens - Perdi a sessão de autógrafos da Paula Taitelbaum na Bamboletras - a Grazi ficou me segurando amordaçada na casa dela e me chantageando com as comidas da tia Têre. Não há de for nada. Amanhã a Bamboletras abre e eu pego autógrafo na Feira do Livro. Duvido que não vá ter.

sexta-feira, outubro 18, 2002

This is my new blogchalk:
Brazil, Rio Grande do Sul, Porto Alegre, Cidade Baixa, Portuguese, English, Ticcia, Female, 26-30, cinema, musica. :)
Tem dias que eu queria pegar o mundo pelo colarinho e gritar bem alto, fazendo os cabelinhos dele voarem pra trás, como nos desenhos animados: “- NÃO FODE!”
Num desses dias, cheia da cara sem motivo com tudo e todos, pois afinal a minha vida é, claro, uma bênção se comparada com outras, pois tudo sempre pode ser infinita e cruelmente pior, como catolicamente sempre fomos ensinados a pensar, saí mais cedo da gaiola-escritório, peguei a linha 255 na Uruguai e desci no Gasômetro.
Assim que pus os pés na calçada, tirei os sapatos e senti o concreto áspero sob a pele fina do animal doméstico, criado em regime de confinamento. Senti a dor das pedras e a imemorial desagradável sensação da sujeira, progressivamente aderindo à pele. Sempre tive pesadelos em que e andava descalça e o desconforto era duplo: a vergonha de andar descalça, onde todos estavam calçados e o nojo por sentir os pés cada vez mais sujos.
Enquanto seguia minha trilha acidentada pela calçada que me levaria à beira do rio, não pensava em mais nada a não ser como evitar as pedras e as sujeiras, os chicletes, as baganas de cigarro, os restos de comida, os cacos de vidro. Mas aí vi que o meu esforço de libertação estava sendo mal conduzido. Se era para me libertar das jaulas do dia-a-dia, fodam-se as pedras e as sujeiras, tinha que agüentar firme e manter o olhar no meu objetivo, o rio. Foi o que eu fiz, não sem receio ou asco, mas fiz. Levei bem menos tempo que se tivesse optado pelo percurso com desvios estratégicos. Cheguei à beira do rio e sentei no chão, ao lado de um banco. Chão úmido, calça suja. Foda-se isso também.
Felizes daqueles que dão tão pouca bola para os outros, o mundo, as coisas, que sentam no chão sujo e molhado e nem pensam na calça que vai ficar imunda. Saudades de ser criança. Melhor voltar pra casa, lavar os pés, botar Band-aid, pôr a calça de molho. Quantas vezes ainda vou ter que andar descalça e sentar em chão molhado até notar que não tenho mais jeito, que sou um animal que não pode mais viver longe do cativeiro?
Aos que tem perguntado por Dodô, a gata ex-ninfomaníaca: passa bem e está em repouso sob os cuidados de sua Dinda, Laupinha. Na verdade, ela está hor-ro-ro-sa, já que depois da histerectomia ficou parecendo uma almofada da qual tiraram a metade do recheio. Do que seria a cintura para baixo, ficou só a coluna vertebral, que liga a parte com recheio ao quadril. Segundo a Dra. Scheila, logo isso vai ser preenchido por gordurinhas estratégicas. Tomara. Por enquanto, a Cher (aquela cantora bregérrima que mandou tirar duas costelas para afinar a cintura) visse Hildolina, morreria de inveja.

quinta-feira, outubro 17, 2002

Quanto tempo a gente leva para deixar de ser o que a gente era? As pessoas mudam algumas coisas, mas quando é que a gente já mudou tanto que já não é mais a mesma pessoa de antes?
Se você muda uma opinião, ou várias, se muda postura política, se já não se comporta mais ou passa a comportar-se melhor, se deixa de amar alguém, se se apaixona novamente, se muda o modo de vestir, corta o cabelo, isso tudo não quer dizer que você tenha se tornado outra pessoa. Quando isso acontece, se é que acontece? Quando a metamorfose chega num ponto em que você já não é mais uma lagarta pronta para a Marquês de Sapucaí, mas uma borboleta?
Não sei, sinceramente, mas tem um dia em que a gente olha pra trás e vê um casulo abandonado, se olha no espelho e vê que o avesso tomou conta do dia, ou que há, em algum lugar, uma carapaça abandonada, tal como a de uma aranha que aumentou tanto de tamanho que nela já não mais cabia.
Nesse dia a gente nota que o vento do começo do mundo sopra em nossos cabelos e eles escalam torres, enroscam-se nos ponteiros do relógio e param o tempo, que tudo é fértil e que em nossas pegadas habitam besouros e formigas. Então, com muito cuidado, porque é perigoso, é hora de respirar, novamente pela primeira vez.

quarta-feira, outubro 16, 2002

"O Oriente tem. Manhattan tem. Berna não tem, como tudo que é neutro..."

Clarice Lispector e Fernando Sabino foram amigos íntimos e trocaram muitas cartas no início da carreira literária de ambos. Em uma dessas cartas, enviada de Berna, onde morava, Clarice escreveu para Sabino: "Falta demônio nessa cidade".

Falta demônio em toda a Suíça. Falta demônio em muitos lugares. Não falta no Brasil, e talvez seja essa a explicação para o encantamento que o país provoca em estrangeiros e nativos: é o feitiço da irreverência.
Os Beatles flertavam parcimoniosamente com o demônio quando cantavam She loves you, ye, ye, ye, tornando-se mais famosos que Jesus Cristo. Só deixaram o demônio tomar conta em discos como Sargent Pepper's, Álbum Branco e Abbey Road, numa época em que Mick Jagger julgava-se o único representante de Lúcifer na Terra. Sempre houve demônio no rock.
Há demônio no vinho, falta no clericot. Há demônio no jeans, falta no linho. Há demônio nas fotos em preto-e-branco. Há demônio no cinema, não há na televisão.
Há demônio em livros, não há em revistas. Há demônio em Picasso, Almodóvar, Wagner, Janis Joplin. Há demônio na chuva mais do que no sol, há demônio no humor e na ironia, nenhum demônio no pastelão.
Não há demônio em bichos e crianças. Volto atrás sobre as crianças. Em algumas há, mas somente nas muito especiais. As outras pensam que são espertas, mas são apenas mal-educadas.
Na poesia há sempre demônio. Na boa poesia, na poesia marginal, na poesia de amor.
Paixão é quando o demônio está nu. Sexo com quem se ama é muito mais satânico, não precisa ser um amor pra sempre, pode ser um amor de repente, qualquer amor inferniza.
Coca-cola tem mais demônio que guaraná. A inteligência tem mais demônio que a simpatia. A vida tem mais demônio que a morte.
Filosofia, psicanálise, beijo, aventura, silêncio. Um minuto de silêncio. O pensamento é o demo.
O Oriente tem. Manhattan tem. Berna não tem, como tudo que é neutro.
Há pessoas que doem enquanto doam
Que reservam suas entranhas a estranhos
Na esperança de preencher
Há pessoas que se fecham enquanto abrem
Que fingem pela pressa do querer
Eu não
Se for para ser assim, que eu seja cobaia de mim
A permitir que as minhas mãos autofágicas
Tornem-se, num passe de mágicas,
Pura fantasia
Fantasmas
Na cama vazia.
(Paula Taitelbaum)


Paula Taitelbaum vai autografar o novo livro, Mundo da Lua, na Bamboletras, sábado,19, às 17h.
"... penso que devemos ler apenas livros que nos ferem, que nos afligem. Se o livro que estamos lendo não nos desperta como um soco no crânio, por que perder tempo lendo-o em primeiro lugar? Para que ele nos torne felizes, como você diz? Ah... nós seríamos felizes do mesmo modo se esses livros não existissem. Livros que nos fazem felizes poderseríamos escrever nós mesmos num piscar de olhos. Precisamos de livros que nos atinjam como a mais dolorosa desventura, como a morte de alguém que amamos mais que a nós mesmos, que nos faça sentir que fomos banidos para o ermo, para longe de qualquer presença humana - como um suicídio. Um livro deve ser como uma machadada no mar congelado dentro de nós." Franz Kafka
Esta citação de Kafka foi extraída do Biscoito Doce.

Diferente dos livros, é o cinema. Em 99,9% dos casos, também se aplica a mesma regra. Melhor sair do cinema reduzido à panqueca de vento. Contudo, tem horas que a gente precisa de um filme com Selo ABIC de final feliz, é ou não é? Tudo bem, a gente não vai discutir os argumentos daqueles besteiróis americanóides idiotas, nem a direção, nem o roteiro, mas, às vezes, é bom, nem que seja para variar.

terça-feira, outubro 15, 2002

Li um poema do Vinicius em um blog (que droga, li tantos blogues que agora não sei mais em qual foi e peço desculpas) e simplesmente concluí que este tal de Vinicius de Moraes é um plageador de sentimentos sem escrúpulos nem consideração, como parecem ser todos os poetas de verdade. Já disse uma poeta que poetar é "em outros amores amar e em outras dores morrer um pouco". Eles fazem isso, trazem à tona as nossas vergonhas, dores, vísceras.
Fica aqui minha moção de repúdio ao Poetinha. Precisava me fazer sentir deste jeito? Bem hoje? Precisava?

A Miragem
Vinicius de Moraes

Não direi que a tua visão desapareceu dos meus olhos sem vida
Nem que a tua presença se diluiu na névoa que veio.
Busquei inutilmente acorrentar-te a um passado de dores
Inutilmente.
Vieste – tua sombra sem carne me acompanha
Como o tédio da última volúpia.
Vieste – e contigo um vago desejo de uma volta inútil
E contigo uma vaga saudade...
És qualquer coisa que ficará na minha vida sem termo
Como uma aflição para todas as minhas alegrias.
Tu és a agonia de todas as posses
És o frio de toda a nudez
E vã será toda a tentativa de me liberar da tua lembrança.

Mas quando cessar em mim todo o desejo de vida
E quando eu não for mais que o cansaço da minha caminhada pela areia
Eu sinto que me terás como me tinhas no passado –
Sinto que me virás oferecer a água mentirosa
Da miragem.
Talvez num ímpeto eu prefira colar a boca à areia estéril
Num desejo de aniquilamento.
Mas não. Embora sabendo que nunca alcançarei a tua imagem
Que estará suspensa e me prometerá água
Embora sabendo que tu és a que foge
Eu me arrastarei para os teus braços.

Dez conselhos para os militantes de esquerda
Frei Betto


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1. Mantenha viva a indignação.

Verifique periodicamente se você é mesmo de esquerda. Adote o critério de Norberto Bobbio: a direita considera a desigualdade social tão natural quanto a diferença entre o dia e a noite. A esquerda encara-a como uma aberração a ser erradicada.

Cuidado: você pode estar contaminado pelo vírus social-democrata, cujos principais sintomas são usar métodos de direita para obter conquistas de esquerda e, em caso de conflito, desagradar aos pequenos para não ficar mal com os grandes.

2. A cabeça pensa onde os pés pisam.

Não dá para ser de esquerda sem "sujar" os sapatos lá onde o povo vive, luta, sofre, alegra-se e celebra suas crenças e vitórias. Teoria sem prática é fazer o jogo da direita.

3. Não se envergonhe de acreditar no socialismo.

O escândalo da Inquisição não faz os cristãos abandonarem os valores e as propostas do Evangelho. Do mesmo modo, o fracasso do socialismo no Leste europeu não deve induzi-lo a descartar o socialismo do horizonte da história humana.

O capitalismo, vigente há 200 anos, fracassou para a maioria da população mundial. Hoje, somos 6 bilhões de habitantes. Segundo o Banco Mundial, 2,8 bilhões sobrevivem com menos de US$ 2 por dia. E 1,2 bilhão, com menos de US$ 1 por dia. A globalização da miséria só não é maior graças ao socialismo chinês que, malgrado seus erros, assegura alimentação, saúde e educação a 1,2 bilhão de pessoas.

4. Seja crítico sem perder a autocrítica.

Muitos militantes de esquerda mudam de lado quando começam a catar piolho em cabeça de alfinete. Preteridos do poder, tornam-se amargos e acusam os seus companheiros(as) de erros e vacilações. Como diz Jesus, vêem o cisco do olho do outro, mas não o camelo no próprio olho. Nem se engajam para melhorar as coisas. Ficam como meros espectadores e juízes e, aos poucos, são cooptados pelo sistema.

Autocrítica não é só admitir os próprios erros. É admitir ser criticado pelos(as) companheiros(as).

5. Saiba a diferença entre militante e "militonto".

"Militonto" é aquele que se gaba de estar em tudo, participar de todos os eventos e movimentos, atuar em todas as frentes. Sua linguagem é repleta de chavões e os efeitos de sua ação são superficiais.

O militante aprofunda seus vínculos com o povo, estuda, reflete, medita; qualifica-se numa determinada forma e área de atuação ou atividade, valoriza os vínculos orgânicos e os projetos comunitários.

6. Seja rigoroso na ética da militância.

A esquerda age por princípios. A direita, por interesses. Um militante de esquerda pode perder tudo ­ a liberdade, o emprego, a vida. Menos a moral. Ao desmoralizar-se, desmoraliza a causa que defende e encarna. Presta um inestimável serviço à direita. Há pelegos disfarçados de militante de esquerda. É o sujeito que se engaja visando, em primeiro lugar, sua ascensão ao poder. Em nome de uma causa coletiva, busca primeiro seu interesse pessoal.

O verdadeiro militante ­ como Jesus, Gandhi, Che Guevara ­ é um servidor, disposto a dar a própria vida para que outros tenham vida. Não se sente humilhado por não estar no poder, ou orgulhoso ao estar. Ele não se confunde com a função que ocupa.

7. Alimente-se na tradição da esquerda.

É preciso oração para cultivar a fé, carinho para nutrir o amor do casal, "voltar às fontes" para manter acesa a mística da militância. Conheça a história da esquerda, leia (auto)biografias, como o "Diário do Che na Bolívia", e romances como "A Mãe", de Gorki, ou "As Vinhas de Ira", de Steinbeck.

8. Prefira o risco de errar com os pobres a ter a pretensão de acertar sem eles.

Conviver com os pobres não é fácil. Primeiro, há a tendência de idealizá-los. Depois, descobre-se que entre eles há os mesmos vícios encontrados nas demais classes sociais. Eles não são melhores nem piores que os demais seres humanos. A diferença é que são pobres, ou seja, pessoas privadas injusta e involuntariamente dos bens essenciais à vida digna. Por isso, estamos ao lado deles. Por uma questão de justiça.

Um militante de esquerda jamais negocia os direitos dos pobres e sabe aprender com eles.

9. Defenda sempre o oprimido, ainda que aparentemente ele não tenha razão.

São tantos os sofrimentos dos pobres do mundo que não se pode esperar deles atitudes que nem sempre aparecem na vida daqueles que tiveram uma educação refinada. Em todos os setores da sociedade há corruptos e bandidos. A diferença é que, na elite, a corrupção se faz com a proteção da lei e os bandidos são defendidos por mecanismos econômicos sofisticados, que permitem que um especulador leve uma nação inteira à penúria.

A vida é o dom maior de Deus. A existência da pobreza clama aos céus. Não espere jamais ser compreendido por quem favorece a opressão dos pobres.

10. Faça da oração um antídoto contra a alienação.

Orar é deixar-se questionar pelo Espírito de Deus. Muitas vezes deixamos de rezar para não ouvir o apelo divino que exige a nossa conversão, isto é, a mudança de rumo na vida. Falamos como militantes e vivemos como burgueses, acomodados ou na cômoda posição de juízes de quem luta.

Orar é permitir que Deus subverta a nossa existência, ensinando-nos a amar assim como Jesus amava, libertadoramente.

segunda-feira, outubro 14, 2002

A cirurgia de Dodô foi adiada para amanhã. Gatos fofos do Brasil, vocês ainda têm a tarde de hoje para tentar reverter a situação e me darem netinhos. Façam passeata na frente da clínica! Greve de fome! Atentados à bomba!
Minha querida gata, Hilda, também conhecida como Hildolina e chamada carinhosamente de Dodô, em cuja homenagem o template deste blog foi escolhido e cujo impulso ninfomaníaco era irrefreável, está, neste exato momento, sendo castrada (será que fêmeas são castradas, é assim que se diz?). Sua mãe (eu) e sua Dinda (Laupinha) estão nervosíssimas, mas os vizinhos, as cortinas, o sofá, a samambaia, os vasos e até os cactus da casa estão em festa. Boa sorte, Dodô.

domingo, outubro 13, 2002



Se tu viesses ver-me hoje à tardinha
(Florbela Espanca)


Se tu viesses ver-me hoje à tardinha,
A essa hora dos mágicos cansaços,
Quando a noite de manso se avizinha,
E me prendesses toda nos teus braços...

Quando me lembra: esse sabor que tinha
A tua boca... o eco dos teus passos...
O teu riso de fonte... os teus abraços...
Os teus beijos... a tua mão na minha...

Se tu viesses quando, linda e louca,
Traça as linhas dulcíssimas dum beijo
E é de seda vermelha e canta e ri

E é como um cravo ao sol a minha boca...
Quando os olhos se me cerram de desejo...
E os meus braços se estendem para ti...

sábado, outubro 12, 2002

Em homenagem ao maior poeta do rock nacional, Renato, falecido há 6 anos:

Sou um animal sentimental, me apego facilmente ao que desperta o meu desejo. Tente me obrigar a fazer o que não quero e 'cê vai logo ver o que acontece...

Ah, Renato, saudades. O mundo precisa desesperadamente de animais sentimentais.

...E há tempos são os jovens que adoecem e há tempos o encanto está ausente e há ferrugem nos sorrisos e só o acaso estende os braços a quem procura abrigo e proteção...
Little Angie, a jornalista mais promissora deste país, sugere que demos continuidade à saga "Nas Montanhas dos Chinchilas", estrelado por Patty Diane Fossey Smith, uma técnica em química de araque formada pela ETFPel que, depois de ter visitado uma fazenda de criação de chinchilas para fornecimento de peles (sim, para casacos de peles, seus FDP!), resolve virar ecologista-promíscuapernomucho-advogada-crítica de cinema-ativista política do PT na África Central (pequena cidade do sul da França, chiquérrima, onde as ruas tem ar condicionado), para onde pretende levar todas as chichilas fofas do mundo para viverem livres e felizes.
É isso aí Angie, desafio aceito.
Enfim SOLssss!!!!! Já tava até pensando em suicídio! Em vez, disso, contudo, optarei por uma forma mais light de auto-punição: dieta. A partir de segunda, claro.

sexta-feira, outubro 11, 2002

Hoje, em homenagem aos depressivos de plantão, eu aconselho que a humanidade ouça "Don't Explain" com a Nina Simone. (Entra o fundo musical) Depois de ouvir, ou durante, por favor, cada um vá até o pacote de bolacha maria mais próximo e tente cortar os pulsos com um dos biscoitos. Sim, eu sei, não dá resultado, mas o importante na vida são os riruais, não é mesmo? - Fim da homenagem -

quinta-feira, outubro 10, 2002

EUA pretendem abandonar a ONU
e o Planeta Terra


Notícia veiculada pelo MundoPerfeito - vale a pena o passeio pela página.


Washignton, 24/09/2002 - A situação ficou realmente insustentável. O governo dos Estados Unidos, desgastado com as críticas que têm recebido e decepcionado com a falta de apoio do resto do mundo à guerras injustificáveis e ao desejo de dominar todo o planeta (excetuando o esforço de seu animalzinho de estimação, Tony Blair), resolveu tomar uma decisão drástica: primeiro os EUA irão se desligar da ONU, depois construirão uma estação espacial, onde toda a população norte-americana, com características caucasianas, tendência batista, comportamento heterossexual, portadora de armas de fogo e, se possível de origem texana, poderá viver em paz, longe desse mundo de intolerância que insite em atacar norte-americanos de bem e tementes a Jesus que nada mais querem nessa vida do que cometer crimes fora do seu País sem ter que encarar um descabido julgamento fora de seu País. A origem toda desse sensato movimento começou no brilhante site Get Us out!.
O resto do mundo aplaude e concorda com a iniciativa sensata de mentes tão abertas: out, far and now.

Quero registrar meus agradecimentos à Little Angie, que está sendo minha tutora para assuntos de Blog. Sem ela, gente, nada disso seria possível (lágrimas nos olhos, sobe a música...) 'Brigada, Angie. I love you.
O filme de que falei ontem, Um amor quase perfeito
tem página, com fotos e algumas críticas. O título original é Le Fate Ignoranti.

By the way, quando Nick Hornby escrever o livro baseado na minha vida e Stephen Frears dirigir o filme, na trilha sonora há de constar, obrigatoriamente, Something (George Harrison) cantada pelo Joe Cocker. Tudo a ver.

quarta-feira, outubro 09, 2002

Ontem assisti "Um amor quase perfeito". O filme é muito bom, mesmo. É a história de uma mulher que depois de ser casada 15 anos, após a morte do marido descobre que ele tinha uma amante. Na verdade um amante. O filme é belíssimo. Vejam. Incrível como a gente não é a gente mesmo porque é, mas somos aquilo que as nossas circunstâncias nos fazem. Se eu virasse garçonete à noite e construísse uma vida nova, num ambiente novo, com pessoas novas, onde eu não estivesse comprometida com as expectativas que os outros tem de mim, eu poderia assumir outro papel. Mais que isso. Não só poderia, como provavelmente assumiria. Não é incrível?
É, não adiante esperniar. Quando essa coisinha chamada amor começa a tomar conta, a gente até pode fazer como HH e fingir que não é com a gente, rezar para que de si mesmo (no caso você mesmo, cara pálida) ele nunca se aperceba, mas não adianta. Se você foi mordido, convença-se que que não há mais nada a fazer. Só por este amor tu vais te saber estar sendo, teu olhar se perderá nas tulipas, nunca te sentirás fatigado e de forças tantas te farás grande e imenso e forte como só sóem ser carvalhos e montanhas. Pelo menos até que te descubras só. Ou não.
Cantares do Sem Nome e de Partidas
(Hilda Hilst)


Que este amor não me cegue nem me siga.
E de mim mesma nunca se aperceba.
Que me exclua do estar sendo perseguida
E do tormento
De só por ele me saber estar sendo.
Que o olhar não se perca nas tulipas
Pois formas tão perfeitas de beleza
Vêm do fulgor das trevas.
E o meu Senhor habita o rutilante escuro
De um suposto de heras em alto muro.
Que este amor só me faça descontente
E farta de fadigas. E de fragilidades tantas
Eu me faça pequena. E diminuta e tenra
Como só soem ser aranhas e formigas.
Que este amor só me veja de partida.

(Cantares do Sem Nome e de Partidas - SP: Massao Ohno, 1995.)

A propósito, minha gata chama-se Hilda. Razões óbvias.
Salut, mes chères!
Este é o meu primeiro blog. Estou muito curiosa para saber como é mandar minhas próprias opiniões para o mundo e se realmente vou conseguir compartilhar da minha nudez com vocês. Não se acanhem. Have a sit and enjoy your trip.